segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A França e François

Hollande, pelo gerenciamento da dívida, contra Sarkô e Merkel
Há pouco menos de dois meses, François Hollande venceu as prévias do Partido Socialista Francês. Isso o tornou, imediatamente, o favorito das próximas eleições presidenciais de seu país, a serem disputadas já no primeiro semestre de 2012. Isso é parte do efeito dança das cadeiras, que é sentido em toda Europa, uma vez que os governos do momento estão sendo responsabilizados pela crise, embora tal processo se deva mais às semelhanças entre os partidos do que às suas diferenças.

E o governo Sarkozy, além disso, ainda é um prato cheio para a oposição. Ele possui todos os defeitos do governo Chirac com pouquíssimas de suas virtudes - leia-se: política externa, coisa que os franceses prezam muito, mas que Sarkô afundou com seu alinhamento automático aos Estados Unidos e sua postura tosca, ao lado de Angela Merkel, no gerenciamento da crise europeia.

A vitória de Hollande nas presidenciais poderia mudar a tônica da política europeia, pela possível saída da passividade artificial em que se encontram os franceses na atualidade. Nada indica que os socialistas, apesar de sua agenda rebaixada, irão à reboque dos alemães: aliás, os interessa salvar o Euro e eles sabem que, para tanto, precisam criar mecanismos de gerenciamento da dívida. Um debtfare? 

Sarkozy não consegue vislumbrar isso, enquanto Merkel, em seus rompantes sub-thatcherianos, assume uma posição de austeridade sistemática como se soubesse o que está fazendo, mas não está: a primeira-ministra alemã fica entre a impossibilidade de largar mão do Euro e a paralisia de fugir dele (ambas as hipóteses exigem uma virtù que Merkel não tem). Embora o plano B de retomar o Marco Alemão acalme a líder germânica, os franceses não tem essa opção em relação ao seu finado Franco.

Um outro governo que não seja alinhando a Washington, como Sarkozy é, não interessa a Obama - e o atual mandatário francês é um pássaro raro em seu país, seja à direita ou à esquerda.  Inclusive porque a tradicional política externa francesa é capaz de dizer não aos americanos, o que, caso se refira à desvalorização do Dólar sobre o Euro, pode fazer toda a diferença na crise atual.

Hollande, portanto, pode mudar o jogo não por lhe trazer algo novo, mas sim por ser um típico político francês de centro-esquerda - contando com uma historicamente atípica maioria no Senado para a centro-esquerda. Isso pressionará Merkel a mudar seus planos.

Mas a futurologia acaba no momento em que o Euro pode morrer, mesmo que queiram salva-lo, antes do novo mandato presidencial francês. E um agravamento da conjuntura russa, com severos impactos para o equilíbrio estratégico no Leste Europeu, Ásia Central e Oriente Médio não está descartado, simultaneamente a tudo isso. 

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