segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Brasil Sexta Potência de 2011: E Daí?

Pelo menos é o que se anuncia em relação ao ranking de Produto Interno Bruto (PIB) em termos nominais - isto é, usando o dólar americano como régua, sem considerar os valores internos de cada país, a chamada paridade de poder de compra (PPC). Ainda assim, mesmo pelo índice de PPC, é provável que o Brasil, agora, seja a sexta maior economia também, ainda que com posições diferentes (e com Índia na frente da França, certamente). Em relação a isso, surgiu um debate um tanto confuso sobre o tema.

Em primeiro lugar, uma obviedade: países são abstrações. Quando falamos em PIB - que é um dado econômico um tanto...bruto como o próprio nome do índice sugere -, falamos de todas as riquezas produzidas em um país, tenha ele 1,3 bilhão de habitantes (como a China) ou 10 milhões (como Portugal) - ou mesmo, uns 190 milhões como o Brasil. Essa unidade imaginária chamada "país" refere-se a áreas muito diferentes, com variadas populações, dispostas de formas bastante próprias.

Dizer que aquele país tem o sexto ou centésimo PIB do mundo é uma afirmação meramente quantitativa - no mesmo sentido que enunciamos o fato do Brasil ter a quinta maior população do planeta. O que significa o Brasil ter passado o Reino Unido? Que durante muito tempo ficamos atrás de um país cuja população é três vezes menor do que o nossa, mas que por questões históricas sempre ostentou uma riqueza muito acima da média mundial - e que ainda ostenta, embora muitos dos países pobres lhes tenham passado em termos gerais. 

Hoje, o Brasil tem um PIB por habitante próximo à média mundial, o que explica, ao passo que temos a quinta população, estarmos nos aproximando do quinto posto. Crescemos mais do que as grandes economias, exceção feita à China e a Índia, o que facilita o processo. Isso não significa que somos os sextos melhores - é preciso ponderar o tamanho de cada país e como essa riqueza é (mal) distribuída em cada um deles -, tampouco que o fato de estarmos em um período de crescimento não signifique absolutamente nada, uma vez que, indiretamente, o crescimento do PIB é um dos fatores de melhoria da qualidade de vida - desde que ocorra sob certas condições.

Sobre o último aspecto, eu aplaudo o processo atual pelo qual passa o Brasil, ainda que com algumas ressalvas, porque esse crescimento visto nos últimos anos foi positivo. Não, nós não crescemos tanto, embora relativamente à média estejamos bem. O ponto é que estamos crescendo com mais qualidade, distribuindo renda melhor - sendo que a regra, nos nossos vários boom do século 20º, era de crescermos com concentração de renda - e empoderando a renda dos trabalhadores - sobre esse último item, vivemos exatamente o inverso do que ocorria do golpe militar aos anos FHC e da tendência mundial desde os anos 90. 

O ufanismo em relação ao fato de estarmos em sexto lugar, portanto, não se justifica - seja pelo tamanho populacional que temos ou, também, por essa visão de crescimento como fim em si mesmo, em caráter meramente quantitativo. Por outro lado, dizer que os processos que conduziram a essa situação são desconsideráveis é outra bobagem sem tamanho, o tipo de crítica mesquinha e mal calculada que dá com os burros n'água, haja vista que não encontram qualquer âncora na realidade: sim, isso veio acompanhado de melhoras na nossa vida, sobretudo dos brasileiros mais pobres.

Precisamos estruturar uma crítica potente - e não reproduzir esse resmunguismo comodista e preguiçoso - que se volte a melhorar isso. Jamais pensar o crescimento como fim em sim mesmo, mas sim como meio, considerados como e para quem ele se dirige, para daí aprimoramos esse processo: isso diz respeito, hoje, à sustentabilidade ambiental e social (que andam abraçadas), o que,  em outras palavras, demanda a apropriação biopolítica da multidão em relação ao que ela mesma produz. Se hoje conseguimos crescer com distribuição de renda, é possível aumentar essa produtividade construindo práticas ambientalmente sustentáveis.



8 comentários:

  1. A sanha em atacar esse dado cru e concreto (PIB do Brasil maior que o do Reino Unido) como forma de desqualificar quem quer que seja me fez ler as maiores bobagens no twitter.

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  2. Só uma crítica ao texto, enquanto forma: esse "(mal)", adjetivando "distribuída", é um recurso que poderia ser dispensado: só tira a 'clareza' do texto, carregando-o de um polisemantismo meramente da forma. Fica muito mais próximo da poesia concreta do que de um texto crítico, direto, claro.

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  3. Mas o que seria eu sem a minha poesia, Maurício?

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  4. Esse "E daí?" reflete exatamente a minha reação de quando li a notícia. Por si só, PIB diz muito pouco. Muito mais importante é prestarmos atenção ao fato de que ainda somos uma das economias mais desiguais do mundo, embora estejamos lentamente melhorando.

    Obs.: E o que seria de você sem sua barba? :D

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  5. Somos desiguais e precisamos melhorar a distribuição de renda - o que, no limite, exige mudanças bem profundas. Ainda assim, dentro desse plano reformista, reduzimos as desigualdades em uma época na qual a tendência é inversa e aumentamos a renda laboral num tempo onde os países achatam seus salários (vide a desenvolvida Alemanha, p.ex.). Isso precisa ser considerado, é claro.

    contra-Obs.: Eu ia ser pouco, embora ela esteja aparada agora ;-)

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  6. Oi Hugo,

    Quando você acha que colheremos os frutos podres do desenvolvimentismo?

    Abraços!

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  7. Nós colhemos frutos podres a todo momento, é um jogo de ônus e bônus. Hoje, você vê setores, ainda explorados, que estão mais fortes: os trabalhadores, p.ex. Eles estão calmos porque as coisas estão seguindo dentro do que eles aspiram - pelo menos como possível -, mas as coisas podem mudar se isso sair dos trilhos - como tem ocorrido em casos específicos como Jirau, Belo Monte e as greves por aí.

    abraços

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