sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Amorim volta ao Jogo (ou "Jobim, só o Tom")

Amorim: sem mais fardas
Nelson Jobim caiu agora há pouco e em seu lugar no ministério da defesa assume o ex-chanceler de Lula, Celso Amorim. Jobim é, seguramente, das figuras mais controversas da República e isso não se deve apenas ao fato do seu exótico gosto por fardas ou por suas declarações bombásticas: Egresso de uma tradicional - e conservadora - família de políticos do Rio Grande do Sul - que lutou contra Vargas em 32 -, ele foi deputado constituinte pelo PMDB - quando fraudou a redação do atual texto Constitucional -, dando sustentação, anos mais tarde, ao governo de Fernando Henrique Cardoso - no qual foi ministro da justiça, pasta que abandonou para ser ministro do STF. Aposentou-se voluntariamente da Suprema Corte - Casa que chegou a presidir -, pois lá suas ambições não tinham  espaço para se realizar e aceitou o cargo de Ministro da Defesa do Governo Lula e, desde então, vinha protagonizando uma atuação tragicômica no seu carreirismo. Até há pouco.

O ridículo de um ministro da defesa que vestia fardas, dava declarações demagógicas para agradar um oficialato que não entende que a Guerra Fria foi-se há muito e, ainda, falava pelos cotovelos sobre tudo não apenas não tinha lugar como era profundamente temerário. A criação do ministério da defesa, para quem não sabe, foi a melhor medida de FHC no plano institucional - dentre tantos erros como a emenda da Reeleição e a erosão do ethos social da Constituição -, porque livrou o Brasil dos ministérios militares, reforçando a primazia do poder civil sobre militar, peça essencial para a construção do Estado de Direito. Os militares, apesar de terem contado com a leniência do então mandatário, não hesitaram em fritar os seguidos ministros da defesa - problema que Lula também enfrentou, mesmo que também tenha sido para lá de hesitante com o resgate da memória nacional no que tange o ciclo militar. 

Portanto, todas as vezes que Jobim vestia farda, além de cometer um crime - sim, porque de fato (e de direito) o é -, ele jogava essa conquista fora, acenando para a submissão do poder civil à tutela militar, fato gravíssimo em um país que mal acabou de sair de uma ditadura militar. Nem se fala então de sua atuação contra a abertura dos arquivos da Ditadura, além da sua truculência e seu desrespeito aos familiares dos presos políticos ainda desaparecidos, sua atuação tinha um projeto claro: defender a ditadura que vive no aqui-agora, a herança tirânica que ainda atua no Estado brasileiro e atravanca a Democracia. Isso, sem falar na sua atuação como leva e traz dos americanos, como confirmado por Wikileaks. Jobim era, portanto, uma gambiarra que Lula achou em um momento de crise para evitar tensões com os militares, mas ele, uma vez que percebeu que não conseguiria galgar grandes posições, resolveu implodir o jogo, dando declarações explosivas que visavam causar sua demissão e provocar junto uma crise no Governo Dilma: seja no aniversário de FHC, quando disse a Fernando Rodrigues que votou em Serra ou, para colocar a cereja no bolo, uma entrevista na Piauí na qual atacou seus colegas de ministério.

Embora a reportagem na Piauí não tenha sido ainda publicada, os trechos que vazaram tornaram sua situação insustentável. Mas a manobra de Jobim foi um tiro no pé. Ele saiu como ministro falastrão, incapaz de se portar com responsabilidade e respeito no debate público. A crise que ele tentou criar, na verdade, foi na sua própria carreira - ou no que resta dela. Dilma, por sua vez, agiu rápido ao nomear o ex-chanceler de Lula, Celso Amorim, como ministro da defesa: trata-se do ministro mais bem-sucedido do governo anterior ao lado da própria Dilma, além de ser figura profundamente popular entre a base petista (ainda que não seja um petista de origem) com uma interlocução fortíssima nos bastidores (dentro e fora do Brasil). Seria difícil imaginar um nome melhor neste momento. 

Reconstruir as Forças Armadas, tanto física quanto programaticamente, é o grande desafio estratégico do Brasil; é preciso que elas sejam inseridas no jogo democrático e que esqueçam a polaridade da Guerra Fria para, assim, ajudar na edificação de uma estrutura internacional multilateral e, ao mesmo tempo, defender as nossas riquezas naturais. Superar o período da ditadura - como fizeram as FFAA  da Argentina e do Chile - é um movimento importantíssimo para a reconciliação nacional. Dilma acerta aqui como já acertou na questão do Ministério dos Transportes quando assumiu o risco de enfrentar um partido com um tamanho razoável - o PR - para desatravancar o PAC que estava posto em risco pelo esquema instalado naquele ministério. Depois de ter quase inviabilizado seu governo, o que teria acontecido se cedesse às  chantagens de Jobim quanto ao sigilo eterno dos arquivos da Ditadura, Dilma corrigiu o erro em grande estilo. Seu governo sai maior depois dessa.



3 comentários:

  1. Eu não entendo como um cara como o Jobim ainda poderia estar no Governo, e um cara como o Amorim fora...

    Amorim é um grande nome. Meio estranho vê-lo no posto de Ministro da Defesa, mas confiarei em sua competência.

    Quanto ao Jobim, quanto mais "essas pessoas" falam, mais convicção eu tenho das minhas orientações (ou tendências) políticas.

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  2. No ponto, meu caro. Irretocável. Foi a melhor notícia do governo Dilma até agora.

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  3. Ândi, O Jobim era uma tentativa de dissuadir as constantes crises provocadas pelos militares contra o Poder Constituído por meio de uma astúcia: Nomear um interlocutor das Forças Armadas para a Defesa. No entanto, isso não deu certo. Sobretudo quando Jobim percebeu que dali ele não passaria. É verdade que ele deu um verdadeiro tiro no pé na forma como forçou para sair, não provocou uma crise no governo e ainda saiu por baixo: e Dilma de certa forma forçou essa situação ao não responder as bobagens que ele vinha falando desde o começo do ano sobre a Comissão da Verdade, o que o levou a cometer esse erro. Não há como defendê-lo, embora muita gente queira.

    DanDi: Sim, é. Agora esperemos para ver o andamento da coisa. A questão militar é o mais perigoso fio desencapado institucional do Brasil atual. É uma situação complicadíssima, mais grave até do que o tema mais delicado da Reforma Política.

    abraços coletivos

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