sexta-feira, 1 de julho de 2011

Hoje Começa a Copa América

Há quem diga que a Copa América, cuja 43ª edição começa hoje na Argentina, é um torneio sem importância. Bobagem. Seleções nacionais jogam poucos torneios oficiais e os que existem sempre são importantes. Dizer que só a Copa do Mundo vale algo é o tipo de argumento que só dura até o momento em que o Brasil perca, ou perigue não ganhar, alguma dessas competições. E temos vencido com frequência, apesar dos vexames nos dois últimos mundiais, somos os bicampeões da Copa América e da Copa das Confederações - e ai se não fossemos. Agora, é claro que disputar um título na casa do maior rival futebolístico dá um tempero interessante à competição. 

Brasil e Argentina são duas das principais escolas de futebol do mundo, senão as principais, e possuem um histórico equilibradíssimo de confronto entre si. O problema é que o enquanto o primeiro se livrou da síndrome de vira-lata frente aos grandes da Europa há muito - até antes de 58, se pensarmos bem -, a Argentina, embora dominasse as competições continentais de clube e de seleções, tremia diante de camisas italianas, inglesas ou alemãs. É verdade que isso muda um pouco nos últimos anos, pouco a pouco o Brasil passou a se impor no cenário continental, vencendo seguidas copas américa e levando boas taças libertadores, enquanto os argentinos mirraram. 

Embora tenham vencido 14 das 42 edições da Copa América, a última vitória argentina - e último título da seleção profissional - foi em 1993, enquanto de lá para cá o Brasil venceu cinco edições. Se considerarmos a Copa América em sentido estrito, desconsiderando os antigos campeonatos sul-americanos, o Brasil bate a Argentina por 5 a 2 - e o próprio Uruguai aparece com 3 títulos. No futebol clubístico, embora a Argentina tenha vencido 22 edições da Libertadores contra 15 do Brasil, nas últimas dez edições, o Brasil venceu 4 torneios contra 3 da Argentina - e enquanto times brasileiros diferentes levaram a Libertadores nos últimos anos, boa parte dos trunfos argentinos se deve ao fenômeno Boca Juniors, ora arrefecido.

A geração de Messi, que ficou aquém do esperado no mundial africano, tem, em seus gramados, mais do que um mero desafio de autoafirmação geracional, mas uma responsabilidade tremenda de fazer a Seleção Argentina voltar a ser vitoriosa e, quem sabe, reverter a curva que aponta para a decadência do futebol daquele país. Não que a situação brasileira seja fácil; também com uma jovem geração em campo, o país se vê às voltas com a obrigação de montar um time forte para disputar o mundial que sediará em 2014, um desafio tremendamente árduo, não resta dúvida.

E o Brasil se vê às voltas com a sombra de uma decadência em seu futebol não muito diferente do que passe a Argentina há quase vinte anos. Desde a globalização, clubes brasileiros largaram atrás dos europeus - e continuam se distanciando, apesar da grave crise econômica europeia -, os jogadores saem cada vez mais cedo do país e a reposição já começa a não ser tão fácil. O mundial de 2002 foi vencido por um time que era, em sua metade, formado por jogadores que atuavam no Brasil. Nas duas (fracassadas) copas seguintes, o time era integralmente de jogadores que atuavam na Europa, podemos dizer que foi a campo uma seleção de brasileiros e não uma Seleção Brasileira - nas duas edições, chegamos apenas nas quartas de final.

Se o Brasil passou a ocupar no cenário local a hegemonia, certamente isso se deve aos espaços deixados pela própria Argentina e por um força inercial. A redução da força verde-amarela começa a ser sentida no cenário mundial. Pior, o que se projeta é cada vez menos animador, faltam jogadores para posições importantes, o que pode se tornar um problema sério, tendo em vista que o próximo mundial será disputa aqui: a vitória será vista como obrigação, uma derrota, será uma tragédia de proporções inimagináveis.

É nesse clima que a Copa América será travada em gramados argentinos, tendo o adendo do renascimento do futebol uruguaio, que levará a campo o melhor time sul-americano do último mundial, sob o comando de Forlán e Cavani - equipe perigosíssima e sem maiores problemas para derrotar Brasil ou Argentina como a própria história prova. Os paraguaios seguem sob o comando de Gerardo Martino e, como nos lembra a Copa da África, podem muito bem criar belos problemas. 

No papel, o Brasil tem o melhor time, ainda que lhe falte um grande goleiro - Julio Cesar, me desculpem, é só um bom goleiro -, um lateral-esquerdo e um centroavante - de repente, Pato pode aproveitar a chance de ficar com a abandonada 9, embora não seja um goleador. A defesa verde-amarela, no entanto, é bem melhor do que a Argentina. Agora, o Uruguai me parece a equipe mais funcional. Se tivesse de apostar, apostaria no Brasil, ainda que com uma pulga atrás da orelha.

P.S.: A Partida inaugural será hoje entre Argentina e Bolívia, o Brasil estreia no domingo contra a Venezuela.

4 comentários:

  1. Quack!

    Uma delícia ver os comentaristas desdobrando-se para justificar a bolinha murcha da seleção amarela. Desculpem, mas é impossível torcer pelo time de Ricardo Teixeira e da rede Globo. Apenas uma paixão futebolística maltrata minhas incrédulas coronárias: a sagrada Macaca velha de guerra. E ela jamais recebeu qualquer migalha dos capatazes do esporte brasileiro. Odeio-os tanto e tão sinceramente que mesmo o Guarani, desde que os contrarie, receberá minha eterna preferência.

    Às vezes descubro simpatias isoladas na seleção, como agora Júlio César, Lúcio, Ganso e... bom, um ou outro que me escapa. Até Mano Menezes cai em desgraça comigo ao engolir essas estrelinhas-de-empresário que os patrões da CBF impõem aos técnicos iniciantes. Ou alguém acredita que Elano começou no banco por opção tática?

    Arre. Depois de cento e onze anos de sofrimento, ninguém merece ver moleques bilionários de topete moicano (ou o que diabo signifique aquilo) passando o pé em cima da bola, rebolando, espalhando cotoveladas, jogando-se ao perdê-la. Para este humilde torcedor, é indiferente se eles riem, choram ou desaparecem pelo hiperespaço.

    Palpite: Brasil campeão numa série de jogos sofríveis. Esperança: Argentina campeã sobre o Uruguai, numa final histórica de oito gols, depois do escrete canarinho desclassificar-se na primeira fase, sob milhares de vaias histéricas.

    http://guilhermescalzilli.blogspot.com/

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  2. Porra, vou discordar de vc somente em uma coisa, o Julio Cesar é um grande goleiro.

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  3. Guilherme,

    Compartilho grande parte do seu sentimento. É difícil torcer por esse time. Aliás, não é um problema localizado aqui ou acolá, mas sim a consequência desse estado de coisas em que vive o futebol brasileiro. A CBF e sua política para a Seleção - ou como ela é cúmplice no êxodo de craques -, a maneira como nossos meninos são envolvidos, tão cedo, nesse mundo de holofotes todos...O resultado é essa coisa kitsch vestida de amarelo.

    Por isso eu sempre dizia que o buraco é muito mais embaixo quando começaram a tratar Dunga como uma espécie de Geni. Creio que Mano Menezes é muito melhor do que ele como treinador, mas sua trabalho é pior porque ele tem se deixado dobrar a todo o esquemão - mais até do que precisa para sobreviver. E o esquemão, meu velho, como você bem nos lembra não é só o Ricardo Teixeira ou a Globo, mas também a própria imprensa esportiva - e acrescento, mesmo seu setor alternativo e intelectualizado, com raríssimas exceções.

    Por tradição ou comodismo estou com a Seleção, embora seja cada vez mais difícil sorrir nas vitórias e chorar nas derrotas. Quem merece mesmo levar essa brincadeira, para mim, é o Uruguai que está jogando agora.

    abraços

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  4. Paulo, para mim, ele é um bom goleiro: é firme nos fundamentos, mas erra quando o bicho pega. Acho que no limite falta aquele diferencial. Compare, p.ex., a Copa dele com a de Marcos (ou mesmo Dida em 2006).

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