quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

31 Anos de PT

O Partido dos Trabalhadores completa hoje 31 anos. No ano do seu 30º aniversário, o PT venceu a terceira eleição presidencial consecutiva, fez a maior bancada na Câmara, garantiu a segunda posição no Senado, elegeu um número expressivo de deputados estaduais - e seus aliados governam a maior parte dos estados - além de ter terminado o ano, segundo nos informa o TSE, com o segundo maior número de filiados, quase 1,4 milhão, perdendo apenas para o PMDB. Não, 2010, não marcou nenhuma vitoriosa avassaladora do Partido, mas lhe manteve na liderança da esquerda partidária com confortável margem de segurança, além do fato de que a ampla aliança com a qual governa o país não apenas persistiu como também saiu fortalecida do pleito. Os êxitos do Governo Lula em seu segundo mandato não apenas foram o carro chefe que assegurou a vitória de Dilma Rousseff como, também, estancaram parte da grave crise interna vivida nos primeiros anos do partido no Governo Federal - ao passo que também mascararam tantos outros problemas existentes. O PT entra em sua quarta década de existência sem ter perdido o seu ethos de vanguarda de esquerda democrática, uma experiência única no mundo, que não se confunde com o socialismo oriental - e sua ortodoxia por vezes autoritária - nem com o socialismo ocidental - no qual, entretanto, não deixa de ter os pés fincados, mesmo que como alternativa à social-democracia (ainda que no Governo Lula, o que se viu foi um típico com governo social-democrata com mais um espírito inovador incomum para uma social-democracia). Isso não quer dizer que seus anos no Poder - bem como as experiências em grandes governos municipais e estaduais - não tenham transformado inúmeros aspectos da sua vida; o Estado brasileiro mudou para melhor com o PT no poder, mas a recíproca também é verdadeira: O Estado também mudou o PT para pior por dentro. A máquina partidária petista cresceu absurdamente e, ao mesmo tempo em que combatia uma tentativa de modernização conservadora do país - uma grande contemporização, como se viu com FHC ou mesmo dentro do PMDB pós-ditadura -, ele também aumentava as conexões com o sistema econômico e político em relação ao qual exercia essa função contra-hegemônica. Por outro lado, as agremiações mais à esquerda, sejam as históricas ou as nascidas de cisões do próprio PT, não conseguem achar o seu lugar em meio ao debate nacional, circunscritas a um eleitorado pequeno, uma boa dose de boas intenções, algumas boas ideias e uns bons tropeções - referentes, em geral, à própria democracia interna, coisa que criticavam no próprio PT. O modelo petista, em sua originalidade, pôs em xeque as tentativas de reprodução da centro-esquerda europeia - um esquerdismo moderado de classe média que levava acadêmicos a considerarem a existência de operários, mas que nunca levaria operários ao poder - do mesmo modo que frustrou  as alternativas ortodoxas (anteriores ou posteriores à sua existência), o que empurrou os primeiros para a direita - por não lhes deixar espaço à esquerda nem eles quererem abrir mão do seu projeto de poder - e relegou os outros à insignificância eleitoral - o que explica muito da crise pela qual passam partidos como o próprio PSDB ou mesmo PSOL e PCB - para não dizer os casos de PSB e PDT que operam como linhas auxiliares do PT de hoje. Se por dentro o partido está mais engessado do que antes - em nome de razões de Estado às vezes insensatas -, por outro lado, a persistência de confrontações duras demonstra que os anos Lula não foram capazes de pôr fim às crises existenciais do Partido - e tampouco foi capaz de criar uma práxis interna capaz de lidar com as diferenças de modo construtivo -; o jogo é duro e as decisões gerais são costuras complexas visando manter o equilíbrio interno, ao mesmo tempo em que buscam responder às demandas externas (normalmente maiores, mas menos complexas do que as questões internas). Frente à esquerda tradicionalista e à direita - seja a mais ou a menos moderada -, o PT nada de braçadas como pólo inventivo, por mais senões que isso possa implicar: Com o perdão da paráfrase, hoje faz aniversário o pior partido brasileiro, com exceção de todos os outros e que é, por sinal, o grande adversário de si mesmo.

P.S.: Atualmente, o grande desafio petista é, sem dúvida, não ser engolido pelas mudanças que produziu - como já colocamos aqui - além de encontrar permanentemente o novo - como Lula, apesar dos seus tropeços, conseguiu - como o encerramento do seu segundo mandato prova. Por ora, seu equilíbrio interno não aponta para grandes mudanças no horizonte, mas a ebulição é permanente.

12 comentários:

  1. Vi esse artigo reproduzido no blog do Nassif:

    http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/os-31-anos-do-pt

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  2. André: Bacana que tenha repercutido, pena que não tenha um link redirecionando para cá (para variar).

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  3. Uma inovação que PT criou para municípios e estados foi o orçamento participativo ,aberto à sociedade civil. Por que não temos isso a nível federal?

    Se é importante a sociedade participar no orçamento, por que estamos no velho jogo?

    Basicamente existem os lobbies empresariais, propondo negócios reacionários ou progressistas (mas de qualquer modo capitalistas, seja para extrair carvão vegetal ou propor energia solar), e do outro os que tentam puxar o PT à esquerda, seja de modo elegante-intelectual, ou através de movimentos sociais, ou ainda, eu incluiria a esquerda radical anti-petista, acho que eles mesmo não declarando, no fundo estão cobrando do Lula e tentando puxar para esquerda.

    Chamo o jogo acima de velho pois não é transparente: ao invés de lobbies e puxadas ideológico-intelectuais-militantes seria mais transparente todos aparecerem em data e hora como conselheiros.

    Tá certo, a nível federal tentou-se o CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social - www.cdes.gov.br), e existem as Conferências Nacionais (a conferência da saúde é boa, os trabalhadores da saúde conseguem propor coisas para o SUS, a da área da Cultura/Arte parece-me razoável, e a Conferência de Comunicação foi uma guerra que a midia tradicional boicotou e fingiu que era uma conferência para restringir a liberdade de expressão).

    Enfim, acho que CDES e Confereências não substituem o Orçamento Participativo. Já ouvi falar em inviabilidade, mas sinceramente não sei se é uma inviabilidade técnica (como uma multidão a nível nacional participaria) ou se é uma inviabilidade política (a política ter sempre de continuar por lobbies e "puxadas" intelectuais-militantes).

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  4. Mais um comentário, dessa vez puxando o assunto para Puc.

    Quando Lula acabou com Provão, criou ENADE, que se dizia nos corredores universitários que era melhor.

    Então por volta de 2003/2004 professores notáveis conversavam com o governo para que ENADE superasse o Provão. E por notáveis, muitos da Puc, dentre eles, muitos de esquerda.

    Por exemplo a Bia Abramides, presidenta da Apropuc. Ela elogiava a disposição do Ministério para acolher algumas ideias, e quando lhe perguntavam porque ela não isso e aquilo ela dizia que não dava entrar lá no MEC e desencadear a revolução (ok, é engraçado, ingênuo, infantil, etc, mas entre nós estudantes, alguns até davam a entender que ela devia entrar lá no MEC com armas da revolução).

    Em resumo: o Lula abriu canais de participação mesmo que momentâneos e tópicos. Alguns da esquerda aderiram ao governo e foram contribuir. Para analistas internacionais Lula é isso: uma forma de acalmar os nervos da esquerda radical e avançar num capitalismo mais progressivo.

    A UNE era anti-FHC mas agora apóia o ENADE e outras políticas do MEC.

    Aí voltando para a Puc: o que é o movimento estudantil esquerdista? Se para alguns perdeu o sentido, me pergunto se não seria um cenário também ruim se fossem apoiadores.

    Voltando ao raciocínio do meu comentário anterior, não representam eles aqueles que continuam a puxar o governo para esquerda? Não deve a existência deles a falta de espaços mais transparentes?

    Tudo isso para chegar a linhas divisórias que talvez separem eu de você (Hugo), da mesma forma como separam tantos outros puquianos: Podemos ver sentido ou não no movimento estudantil de esquerda, vendo sentido, podemos participar ou não, e entre os que particpam, podem estar tentando puxar esse país sob o PT para esquerda ou o governo que se dane e estarem construindo uma coisa nova sentindo ou não ojeriza do velho (dessa última parte chega a ser ofensa entre os grupos apontar "petismo" alheio).

    Quanto à mim vejo sentido no movimento, participo difusamente e é para puxar o cenário para esquerda, sem nutrir um anti-petismo. Bom, mas tô pensando em tudo isso só para reflexão (em boa parte para mim mesmo), não para saber sua (do Hugo) posição nisso tudo.

    Abraço!

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  5. Excelente post, Hugo! O final, aliás, muito bom. O governo Lula, aliás, foi ruim, mas o melhor até hoje. Infelizmente temos de viver com isso e, agora, com Dilma, já sinto saudades do Lula!

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  6. Hugo,

    Sou repórter da Agência Dinheiro Vivo e cuido das discussões e moderação no blog do jornalista Luis Nassif.

    Diariamente, acompanho o excelente debate que o Descurvo proporciona. Ontem, quando li seu post sobre o PT, achei interessante publicá-lo também no blog do Nassif, ampliando a discussão.

    Gostaria de corrigir um ponto a que você se refere na caixa de comentários: "Bacana que tenha repercutido, pena que não tenha um link redirecionando para cá (para variar)."

    Não é verdade que o post está sem link - basta clicar no título do texto, como em todos os outros posts, inclusive clippings do Valor, Estadão, Folha. Este é o estilo de todos os posts. Clicando no título, ou mesmo em "Do Blog de Hugo Albuquerque", você será redirecionado para cá.

    Diferente do que você diz, não é praxe do nosso trabalho deixar de redirecionar o post. As fontes e a linkagem na blogosfera são regras essenciais para o bom debate.

    Não estamos imunes a falhas, claro. Pode escapar um post sem o devido link. No caso do post sobre o PT, no entanto, o redirecionamento está lá, como manda a boa etiqueta da blogosfera.

    Desculpe o incômodo.

    Abração,
    Luiz Henrique Mendes
    Repórter da Agência Dinheiro Vivo

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  7. Excelentes colocações, Celião, eu concordo com grande parte do que você colocou e, sobretudo, com a maneira que você problematizou a questão: Sim, o Governo Lula é mais complexo do que pode parecer a uma primeira vista, por mais que a esquerda pró-PT e a esquerda anti-PT se percam nos reducionismos. Isso tem a ver com o próprio Capitalismo - a maneira como ele esquizofreniza para se reproduzir e, ao mesmo tempo, a maneira como ele precisa a controlar para sobreviver -, mas também tem a ver com a complexidade geográfica, política e cultural de um país como o Brasil, então o buraco é mais embaixo. Mas Lula, apesar das concessões e do não rompimento com velhos mecanismos, no fim das contas, é um copo mais cheio do que vazio, sobretudo pela política externa e pelo fortalecimento da classe trabalhadora.

    Sim, eu penso algo bastante parecido da esquerda anti-PT. Em parte, ele não participa por um alegado medo de ser fagocitada - justificadamente ou não -, mas também - e eu diria, principalmente - porque ela tem tendências hegemonistas iguais ou piores do que o PT - sobretudo a esquerda radical egressa do PT, enquanto a esquerda radical pré-PT tem outros problemas, mais ligados ao seu dogmatismo e sua distância do povão, o que causa uma elitização do partido, vide o pequeno PCB (quase insignificante no debate) e, do outro lado do movimento pendular, PC do B e PPS contemporizando com a direita mesmo, sem sequer ter um chão popular (o PT tem os movimentos sociais e os sindicatos) para lhe manter à esquerda do centro (o PC do B ainda não virou um PPS, uma ex-esquerda, mas se as coisas continuarem como estão, vai se tornar um sim). Seja como for, entre a esquerda radical de um modo geral falta uma política que seja capaz de, ao menos, admitir a diferença em seu interior, o que foi, apesar de todos os senões, uma conquista do PT.

    Sobre os conselhos, sim as informações que eu tenho de alguns são boas, seja como for, é um espaço de atuação política que poderia ser mais bem usado por todos os setores da esquerda organizada. Sobre a UNE, acho que o problema ali passa mais pelo aparelhamento partidário com o qual ela vive às voltas - pelo PC do B, mas não seria diferente se outro partido estivesse mandando ali - do que com a problemática do Governo Lula.

    Já o movimento estudantil, eu posso te dizer que participei bastante, mas depois me afastei consideravelmente. Não quero deixar de fazer as coisas porque eu acho a participação importante, mas qualquer atuação mais política certamente seria distanciada de grupos com envolvimento partidário que, na ânsia de atuar segundo essa ou aquela linha - ou mesmo para satisfazer seus próprios interesses de "crescer" na política -, tornam o auto-declarado "ME", um movimento frequentado pelas mesmas (poucas) pessoas e voltado, no discurso e na prática, para si mesmo. E aqui, eu não vejo atuação no ME como uma espécie de micro-atuação em relação a atuar no Governo Federal e em seus espaços, porque a dinâmica lá, apesar dos seus problemas, não se igual a dinâmica universitária, muito mais fechada, muito menos tolerante às diferenças e mais autoritária, logo, menos eficaz. Sim, é preciso atuar, mas também é necessário se desvencilhar das vanguardas - pelo menos lá no planalto, a vanguarda é razoavelmente democrática, enquanto nas Perdizes ela excede qualquer limite.

    abração

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  8. Tsavkko,

    Eu ainda acho, pela minha leitura das circunstâncias, o Governo Lula um copo mais cheio do que vazio, mas mesmo que chegasse a conclusão inversa, ainda assim, seria praticamente impossível fugir da constatação de que foi o melhor Governo da nossa História. Sim, o sapo barbado iria deixar saudades de um jeito ou de outro, não existem quadros políticos à altura, e os melhores quadros do PT são minoritários no partido - aí entra algo que certamente é responsabilidade de Lula e seu staff -, o que tornaria quase impossível o lançamento de suas candidaturas. Se Dilma, no entanto, não foi a melhor opção, também não foi a pior entre as possíveis. Não gostei de algumas medidas suas como externei aqui, mas acho que ela tomou boas decisões como, por exemplo, não cortar verbas do PAC no contingenciamento deste ano, mas sim das chamadas "emendas parlamentares" - que são uma vergonha. Esperemos e esperanceemos.

    abraço

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  9. Luiz, Obrigado pelos esclarecimentos, de fato eu me enganei quanto ao link por um motivo bem simples: Ele estava em negrito, o que a uma primeira vista, convenhamos, confunde a percepção de qualquer um - como você pode perceber por este post, p.ex., onde há uma boa quantidade de negrito e linkagens que, se fossem da mesma cor, causaria uma ligeira confusão no leitor. De todo modo, eu peço desculpas por essa caso específico,apesar dos pesares (e a cor dos links é algo para vocês pensarem sim). Quanto à afirmação de que "Diferente do que você diz, não é praxe do nosso trabalho deixar de redirecionar o post", eu não afirmei isso aqui, nem foi desse modo que eu coloquei a problemática quando fiz essa crítica no próprio blog do Nassif, mas venhamos e convenhamos, você sabe que já aconteceram casos de não haver link para o post republicado lá, não? O que eu ressaltei foi isso daí que você comentou, o diabo do link é fundamental nessa tarefa, é preciso que a rede tenha um suspiro, se interconecte mais e mais. De todo modo, é isso, não estou criando caso ou fazendo picuinha contra ninguém e fico feliz que tenha gostado do post e o tenha socializado - afinal, esse é o objetivo desta humilde Casa.

    abraço

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  10. Hugo,

    Obrigado pela resposta.

    Sobre os links, o negrito realmente confunde - não havia me atentado para este dado e, desde já, agradeço pelo toque. Vou estudar uma maneira de melhorar essa questão.

    Quanto aos posts sem link, como disse lá em cima, não estamos imunes a falhas, ainda mais se tratando de um blog colaborativo, feito em grande parte com a notável contribuição de nossos leitores.

    Aliás, suas contribuições no Blog são ótimas. Lembro de um excelente comentário seu que transformamos em post. O tema, salvo engano, era o comunismo chinês.

    Continue comentando por lá :)

    A linkagem é mesmo essencial e foi, por sinal, uma das minhas primeiras orientações logo que iniciei meu trabalho com o Nassif.

    No mais, me mantenho fiel leitor do Descurvo, que é dos melhores espaços de discussão política na blogosfera.

    Abração,
    Luiz Henrique Mendes

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  11. Acabei de ver aqui...

    No último comentário, quando falo da orientação com os links, ficou um tanto confuso. Atentar para os links foi das primeiras orientações que recebi do próprio Nassif.

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  12. Então tudo bem, Luiz, vamos caminhando, quando for oportuno e eu tiver algo para colaborar lá, certamente o farei.

    abraço

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