domingo, 19 de dezembro de 2010

Ainda a Blogosfera

Ainda tratando da repercussão do caso "Nassif-Feminazis" da blogosfera progressista, recomendo um excelente post de Idelber Avelar que pontua bem a questão do machismo na blogosfera e esse estado de coisas dos últimos dias: A busca incansável por um feminismo dócil, ou, não é de você que devemos falar - em relação ao qual eu só discordo mesmo quanto à referência à psicanálise freudiana, mas aí é outra questão, é só parte da minha descrença em relação às religiões mesmo, nada substancial. O próprio Nassif tornou a abordar a questão, citando, inclusive, o meu post sobre a questão, em um episódio no qual fez um tardio mea-culpa pelo ocorrido, mas ainda assim, novamente tropeçou na análise de inúmeros pontos - sobre os quais poderia discriminar um por um, mas a questão se resume no que eu postulei semana passada: Existe uma enorme diferença de fundamentos, perspectivas e interesses entre os jornalistas-blogueiros (e seus militantes) e a blogosfera de esquerda orgânica. Ora, ocorre uma confluência de interesses e valores, ora não, porque são mundos diferentes mesmo. Resumidamente, reproduzo aqui o que eu respondi ao Nassif sobre certas referências ao meu post:
Nassif,
Em tempo, já que não há link para o meu post - e isso é importante também neste caso para entender o contexto do raciocínio - cabe esclarecer algumas coisas:
1. Eu não me considero parte do grupo de "blogueiros pioneiros". Nem poderia. Meu blog não tem nem dois anos. O que eu não sou, com efeito, é um egresso da mídia corporativa, isso sim.
2. A minha crítica ao pessoal que veio do jornalismo não é nem tanto quanto aos fins e às pautas  tampouco pela importância na popularização do blog -, mas à forma de blogar. Falta de links, às vezes equívocos na hora de copiar e colar posts de outros blogs - é a forma de interação com a rede que é alvo da minha crítica - e as consequências disso, que não são pequenas ao meu ver -, não o fato desses blogs (inclusive este) ter uma forma alternativa.
3. Sim, é exatamente isso. Encontrar palavras que a própria razão desconhece. Não é uma crítica racionalista, nem poderia ser. É o simples fruto de uma análise na qual o conceito de "progresso" não está apenas inserido na consciência da nossa sociedade, mas dentro da própria escala inconsciente e se reproduz naturalmente nesse sentido - com os problemas que são decorrentes. Evidentemente, não é uma crítica moral, mas um convite à reflexão sobre algo que é tão normal que as pessoas nem se dão conta.
4. É extremamente positivo que gente de fora da academia venha para a blogosfera. E, sobretudo, que gente de fora do jornalismo venha para a comunicação. O ponto é que isso tem de existir, no meu entender, em um ambiente de crítica. Se escapar a isso e setores começarem a agir por reflexo, infelizmente, estaremos diante de um quadro de sectarismo, onde se milita por causas sobre as quais não se pensam os fundamentos, os meios e os fins. É isso que está em jogo, ao meu ver.
abraços
Hugo Albuquerque


Particularmente, o único episódio que ainda me causou perplexidade nisso tudo foi o comentário do Azenha ao dar repercussão ao post do Nassif - e uma referência vaga a uma "agressividade, que vai para além da crítica sempre necessária" - e um post curioso, dessas pérolas internéticas, na qual, em poucas linhas ele escreveu:



Pegava fácil
por Luiz Carlos Azenha
Eu gostaria de uma orientação das feministas: é politicamente correto ler conteúdo do Pegava Fácil?
Neste caso, estamos diante da transformação do corpo masculino em “objeto de consumo”?
Ou é um sinal da emancipação das mulheres?
Confesso que estou confuso.


Talvez seja só um sinal de infantilidade mesmo. Ou será que ele não entendeu que isso até agora isso não é uma discussão sobre o politicamente correto, mas sim, sobre o significado de certas palavras e gestos? Ou que não existe simetria entre a exploração da mulher e do homem, no que diz respeito ao gênero, na nossa sociedade? Mais do isso até, no contexto no qual isso foi dito no atual debate na blogosfera. Isso é uma discussão longa e séria, em um contexto no qual uma parte prefere agir com desdém e sarcasmo, subjetivando às outras partes com a identidade que que lhe convém - um rótulo, naturalmente. Como se rotula e para que se rotula é bastante revelador. De tudo isso, só se pode tirar uma conclusão: No fim das contas, o que importa mesmo são os meios, isso é o concreto de todo e qualquer movimento. 


12 comentários:

  1. Eu vejo isso como uma discussão, no fundo, ridícula; isso porque, de fato, o feminismo radical sempre foi prodígio em fazer tempestade em copos d´água, típica de quem só consegue ver opressão em cada atitude masculina.

    De fato que a unidade da blogosfera progressista era frágil e não se sustentaria na primeira vez em que os diferentes ramos dos blogs de esquerda se chocassem; Nassif, nesse ponto, age como aquele que sente as oportunidades, saindo dos blogs progressistas num momento em que é muito mais conveniente posicionar-se ao centro e deixar a esquerda militante discursando sozinha, frequentando Idelber e outros blogs semelhantes.

    Mais uma vez, Nassif mostra o que é de verdade; e alguém tinha dúvidas de que ele não era tão progressista quanto o pintavam?

    Eu, hein ... tem gente que nasceu ontem, mesmo.

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  2. fps3000,

    Isso não é um debate sobre feminismo e os problemas do movimento feminista. Nunca foi. Nem tinha como ser, afinal, isso começa com alguém fazendo uma desqualificação grosseira ao feminismo como um todo e ganhando visibilidade no blog dele. Então, por mais que se discorde de certos ramos do feminismo - e eu discordo de grande parte dele - não é essa discussão que está posta. Sim, é possível ser contra o feminismo como um todo, mas para tanto é preciso provar que as mulheres não sofrem opressão. Isso é uma discussão tão primária que eu não gostaria de entrar.

    Outro ponto é essa profunda inconsciência do termo "progressista". Isso não é sinônimo de "esquerda" e justamente por não sê-lo é que foi escolhido, para produzir "consenso". Não preciso sair do grupo para se posicionar ao centro político - do qual Nassif nunca saiu (e o que, em si, não é um problema).

    E não existe saída de "blogs progressistas", nunca houve um grupo homogêneo um movimento em relação a isso. A esquerda "militante", que eu saiba, está em parte do lado dele. Mas os setores de esquerda não precisam dele para falar para alguém, menos, menos. E antes frequentem o Idelber, um belíssimo blog feito por um grande intelectual, capaz de tomar posições de forma crítica e coerente. Sobre quem nasceu ontem, não sei se é questão de vir aqui dizer, a menos que você não tenha lido o parágrafo final do primeiro post sobre o assunto. E, sim, Nassif é progressista, a menos que você não tenha entendido a história toda.

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  3. Como vai, estimado Hugo?

    Como sempre com boas colocações! É um imenso prazer poder estar em teu espaço.

    Fiquei quase 2 anos morando fora e me distanciei dos blogues por questão de urgência nos trabalhos e alguns problemas pessoais.

    Eis que volto a passeio e me deparo com essas discordâncias de comentaristas e até de blogueiros, muitas das quais por radicalismo puro.

    Entendi perfeitamente tuas colocações, tanto que voltei para ler postagens antigas, fui ao Nassif e ao Azenha para entender todo esse embrólio.

    Uma bobeira de nada deslindou toda essa confusão. Mas aí os preconceitos afloram, assim como as posições mais radicais.

    Olha, andei notando que o Nassif se cansou após as eleições. Acho que tirou umas férias, digamos assim. Digo isso pela quantidade de posts de música e algumas seleções de comentários (50 posts por dia, mas só se aproveitam 2 ou 3).

    Creio que essas "férias" tenham feito com que ele não selecionasse com maior cuidado os comentários que costuma postar. Apenas deixou acontecer e deu no que deu.

    O mea culpa dele foi mesmo tardio, infelizmente. Acho que talvez tenha um resquício de machismo nessa demora em desfazer tantos impropérios. A mulherada ficou alucinada! (rs)

    E, sim, também acho que ele é um progressista de centro. Nunca foi de esquerda, disso tenho certeza. Acho que suas posições, uns anos atrás, acariciavam o tucanato, digamos assim.

    Mas ele acordou e seu posicionamento nos últimos anos foi de um grande lutador contra o serrismo e o que se chama hoje de PIG. Quanto a isso não há dúvidas, foi um herói na resistência.

    Mas aí a julgá-lo como esquerda, nem pensar. Esquerda sou eu (rs).

    Quanto ao post do Azenha... Olha, tenho me decepcionado com ele, sobretudo no caso de violência e invasão de favelas no Rio. O posicionamento dele foi insconsistente, muito fraco.

    E agora vem com outra postagem que mencionou. Decepcionante, no mínimo. Mas acho que fez isso mais para tentar ser engraçado. Ele no humor é pior do que os russos (rs).

    Mas deixo aqui meu apreço por ambos blogueiros: Nassif e Azenha. Dois dos baluartes da luta contra a imprensa infame que se instalou no país e sujeira das últimas eleições.

    Eu me despeço por aqui, pois já falei demais, como sempre.

    Que tenha boas festividades neste final de ano, em paz com a família e amigos.

    Um ano novo repleto de paz, saúde e de grandes postagens, como esta.

    Salve o Descurvo!

    Um grande abraço, caro Hugo.

    Spacibo!

    Pyotr

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  4. Pyotr,

    Bom vê-lo por aqui. De fato, ele é um homem de centro como já enfatizei no primeiro post. Quanto a isso, nenhum problema, a questão aqui é como essa grande confusão de relacionamento entre as duas alas da blogosfera não alinhadas com a mídia corporativa a levaram a tal ponto, naquela que foi sua primeira discordância séria; para além de não concordar com o que o outro falou, esperava-se um comportamento do outro que, na verdade, não aconteceria de qualquer modo, nem poderia acontecer. Isso tem a ver com o fato de que não há um alinhamento político concreto - talvez haja eleitoral, pelas circunstâncias - e também com a formação de alguns desses blogueiros, o que os faz trazer certos vícios da mídia grande. Existe um estranhamento natural de fundamentos, perspectivas e valores assim como também existe (ou existia) uma pressuposição de protagonismo por parte dela, que a fez não admitir críticas nem a se pôr no mesmo nível no debate com os demais atores. Eu acredito que o debate tem de rolar, no plano dos argumentos, tendo em vista que aqui não há (nem pode haver intocáveis). A convivência daqui para frente tem de ter em mente de forma bem clara essas diferenças.

    abraços e boas festas

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  5. Vc falou tudo, amigo.

    O alinhamento de gde parte foi eleitoral e não político.

    Não há a origem política de pensamento e sim uma conveniência eleitoral momentânea. Daqui 4 anos tudo pode mudar, o posicionamento pode ser outro.

    E dizem que isso é para não ter "rabo preso". Será?

    A internet mudou o mundo e continuará avançando, pois os colunistas não serão mais intocáveis, como bem argumentou.

    E qto a estes dois lados da blogosfera progressista, a briga mal começou...

    Abraços

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  6. Pyotr,

    Se o amigo me permite um último reparo: É que no fim das contas podemos dizer que existe uma blogosfera não-alinhada à mídia corporativa tradicional. Aí é que está.

    abraços

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  7. Euclides F. Santeiro Filho20 de dezembro de 2010 às 07:14

    Vixi, Hugo, já era.

    O negócio descambou. O Eduardo Guimarães perdeu completamente o juízo, o Azenha está endossando o Nassif dessa forma bizonha e as pessoas estão invertendo tudo, fazendo exatamente aquilo que eu alertei quando debati com o Rovai.

    http://www.blogcidadania.com.br/2010/12/a-quem-interessa-desagregar-a-blogosfera/comment-page-1/#comment-38848

    Mudaram o foco, jogaram o feminismo e a discussão sobre liberdade de expressão no lixo e estão inventando uma guerra maluca entre blogueiros.

    Por algumas declarações ainda temos muitos órfãos do Muro de Berlim na jogada, gente que acha que a "revolução" está sendo prejudicada por essa "desegragação dos revolucionários".

    Olha o nível da coisa:

    http://tudo-em-cima.blogspot.com/2010/12/direita-pig-complexados-e-donos-do.html

    Essa galera não percebe que, como você bem disse, o que importa é o meio. Eu já havia tocado nesse ponto após a discussão com o Rovai, dizendo que o que conta são os argumentos e não os argumentadores.
    Mas com esse festival de ad hominem rolando fica claro que poucos pensam assim.

    Bom, para mim o buraco é sempre mais embaixo. Sem nenhuma prepotência, falta nível intelectual para a maioria dos envolvidos nessa contenda. Está se ignorando isso, mas não há como evitar. As pessoas não seguem um mínimo de raciocínio lógico e não têm a mínima babagem (ou humildade) para debater as coisas.

    Eu não sabia praticamente nada sobre feminismo (só li Beauvoir) e baixei a orelha para ouvir as pessoas. Enquanto isso, uns contestam de maneira orgulhosa e equivocada, explicitando até mesmo uma certa dificuldade de interpretação de texto.

    Será mesmo a burrice a Pedra da Gávea, impenetrável? (sei que depois dessa vai rolar mais acusação de pseudo-intelectualdade, de ser detentor de verdades e coisas do tipo, mas eu topo debater para provar que há motivos objetivos para essa minha "arrogância")

    Abraços.

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  8. Euclides,

    Infelizmente, é por aí. A rede, felizmente, possibilita que criemos novas conexões e terminemos com antigas com a rapidez de um clique - e esse episódio serviu para revelar certas entranhas da blogosfera que estavam um pouco visíveis, mas que se revelaram de vez. É um episódio triste, mas que serve para a esquerda da blogosfera - pelo menos a parte dela que se presta a pensar e a ouvir - acordar definitivamente (eu, inclusive). A potencialidade libertária deste meio não pode ser jogada janela abaixo por conta seja de esquerdistas autoritários - e seus fantasmas, seus delírios - ou por aliados de ocasião do Lulismo que ainda estão pensando em quem apoiar daqui a quatro anos - e pouco lhes importa se essa opção será ou não à esquerda. É isso que temos de nos concentrar com mais afinco aqui.

    abraços

    P.S.: Adjetivos sempre dizem sobre nós mesmos do que sobre quem qualificamos, como certa vez disse o nosso Alexandre Nodari.

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  9. Euclides F. Santeiro Filho20 de dezembro de 2010 às 14:06

    MEU DEUS!

    AS MÁSCARAS ESTÃO CAINDO TODAS DE UMA VEZ!

    AGORA ESTOU SENDO CENSURADO NO BLOG "DESCULPE A NOSSA FALHA", AQUELE QUE FOI PROCESSADO PELA
    FOLHA.

    NÃO TEM A VER COM O CASO NASSIF-FEMINAZI, MAS TEM A VER COM A PSEUDO-DEMOCRACIA DE ALGUNS.

    LEIAM MINHAS COLOCAÇÕES E VEJAM SE CABE CENSURA!

    SINTO-ME ENOJADO...

    P.S.:Tenho o comentário censurado salvo no meu HD.

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  10. Euclides F. Santeiro Filho20 de dezembro de 2010 às 14:12

    Esqueci o link:

    http://desculpeanossafalha.com.br/desembargador-do-tj-da-razao-da-folha-e-diz-que-falha-e-flagrante-de-concorrencia-parasitaria/

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  11. Cara, quando eu vejo esses infantilismos como o que o Azenha cometeu, eu até broxo. Porque, infelizmente, esse tipo de (falta de) mentalidade é a mais freqüente. Cê viu essa coisa horrorosa? Realmente, às vezes me parece que a luta contra o machismo está fadada a um retumbante fracasso.

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  12. HWB,

    Sim, é broxante mesmo. Uma ducha de água fria. Enquanto essa gente comete essas irresponsabilidades por uma questão de ego, coisas como essa passam desapercebidas - porque, claro, "isso tem de ser página virada, temos de nos ater a verdadeira agenda do país" como andam dizendo alguns jornalistas-blogueiros por aí. Esse caso do Oficina é a expressão de um judiciário jurássico, seja no que toca ao seu moralismo ou ao seu desdém pela liberdade de expressão.

    abraços

    P.S.: Seu comentário só entra agora porque o anti-spam do blog, não sei por quais cargas d´água, o reteve.

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