sexta-feira, 23 de abril de 2010

O Andamento da Campanha

Entre factóides, pesquisas estranhas, um número enorme de eleitores ainda indecisos - ou mesmo que ainda não se deram conta que Lula não pode ser candidato em Outubro -, as coisas vão se delineando nos bastidores.

A aliança entre PT e PMDB, que é dita e sobredita, com Lula já admitindo como razoável o cargo de vice para Temer, é uma dos pontos mais relevantes para o que pode acontecer no final do ano - e, se a empreitada der certo, um evento com efeito considerável para os próximos quatro anos. O PMDB pode assumir a mesma postur cínica dos últimos anos e se beneficiar de quem ganhar a eleição ou pode se arriscar e ganhar algo mais. O PT ganha eleitoralmente com essa aliança, quer seja pelo tempo de televisão ou pela alianças nos estados (tirando palanques de Serra, por exemplo), mas dependendo como faça essa amarração, pode se complicar nos próximos quatro anos.

O PSDB, por sua vez, se apóia na incerta liderança de Serra, que permanece em primeiro nas divergentes pesquisas estimuladas ao mesmo tempo em que perde para Dilma e também para Lula (?!) em todas as pesquisas espontâneas - entender porque as espontâneas se parecem entre si e as estimuladas divergem certamente é uma coisa que aguça a minha imaginação... também pesa o atual cenário onde muitos eleitores ainda estão indeciso, embora tendam a votar na continuidade pela forma como aprovam o Governo Lula. Pesa contra o PSDB também a crise no DEM e no PPS, o que pode dificultar a situação de um Serra eleito no Congresso.

As coisas vão caminhar com pequenas alterações pelo próximo mês - ou mesmo qualquer mudança mais brusca poderá ser revertida durante a época da campanha na televisão, o que realmente importa, por mais triste que isso seja. Em Junho, claro, as coisas param por conta da Copa, mas o resultado do Brasil ali não terá reflexos eleitorais - a não ser, claro, pôr a questão eleitoral na própria criogenia. Julho as coisas pegam e esquentarão mês a mês. Na briga da TV, veremos qual marketeiro se sairá melhor. Nos palanques estaduais, a aliança do PT com o PMDB no Sul pode ser fatal para Serra, desde que os palanques em São Paulo e em Minas sejam razoáveis - aliás, o primeiro discurso de Mercadante foi bom, o que forçará o enfraquecido Alckmin a trabalhar para ele mesmo e para Serra com mais afinco.

Do ponto de vista do que conta mesmo, o fato é que o exército de reserva de mão de obra está baixo e, nos últimos anos, apesar da renda do capital não ter sido direta e imediatamente ameaçada, a renda do trabalho aumentou - o que se manifesta pelo aumento do poder de reivindicação dos sindicatos, por exemplo. Isso gerará um movimento muito forte nos últimos anos e é por isso que muitos setores empresariais mantêm-se firmes na candidatura Serra, que exige um esforço pesado. 

Por outro lado, existem determinados setores capitalistas que estão com o PT porque vislumbram que esse eventual fortalecimento da classe trabalhadora passará por dentro do partido da estrela e assim ele será neutralizado - ou mesmo que, pelos próximos quatro anos, o projeto petista além de não ameaçar ninguém, ainda vai ajudar bastante. Do ponto de vista dos sindicatos e dos movimentos sociais, ficam algumas conquistas alcançadas no Governo atual - e um ressentimento por certos recuos diminuído tanto pela ideia do medo do PSDB quanto pela falta de opções.

O que o PT quer não está claro, mas muito provavelmente é continuar tocando uma política de articulação capital-trabalho bastante engenhosa - tanto que continuou funcionando bem em plena crise mundial, ainda que traga em seu interior certas incongruências que, cedo ou tarde, virão à tona. O PSDB, com seus eternos candidatos mais chegados a um projeto pessoal, encampam quem está insatisfeito com esse projeto ou quem o enxerga com desconfiança. Em suma, por vias oblíquas, não estamos falando de um confronto muito diferente daquele se via entre PTB e UDN nos fins dos anos 50 - claro, ressalvadas todas as diferenças.

Se Serra ganhar e mantiver a política de confrotação que se vê em São Paulo - ainda mais para os fins que ele está sendo projetado como candidato -, ele terá problemas, se por bom senso recuar, terá de mostrar a habilidade negocial que sempre lhe faltou; Dilma teria mais tranquilidade num primeiro momento, mas teria de lidar com a necessidade de renovar de maneira viável o projeto petista nos próximos anos. PSOL e PV terão uma função importante na próxima eleição, com o primeiro pautando a crítica ao Capitalismo - o que infelizmente vai ser prejudicado por suas deficiências internas e a dissidência que se vê no momento - e o segundo trazendo à baila a questão ecológica - que não é perfumaria nem se desvincula da questão econômica, muito pelo contrário.  

O Brasil tende a se transformar bastante nos próximos anos, quem não tiver em mente isso ou mesmo a capacidade de catalisar criativa e sustentavelmente o processo, terá problemas. Seja como for, a aparente calmaria dos anos Real tende a ser rompida. Seja lá qual for o Governo eleito, o próximo quadriênio será marcado por uma especial necessidade da nossa democracia se aprofunda e se sofisticar, pois as demandas tenderão a ser aproximar em complexidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário