quarta-feira, 22 de julho de 2009

A UNE [atualizado]

Ontem, o Nassif fez um post sobre a UNE em cima da seguinte pergunta de um leitor seu, o Paulo Cavalcanti:



"Caro Nassif, gostaria de ler no seu blog comentários sobre o congresso da UNE (findado ontem), bem como a atuação da UNE na década de 90 e nos últimos oito anos. "

Eu, honestamente, sou extremamente cético em relação a UNE. Mesmo sem participar de uma chapa, acompanhei o processo eleitoral para o referido Congresso na PUC-SP e não gostei nada do que eu vi, especialmente da atuação da UJS, a juventude do PC do B, partido que aparelha aquela organização há muito tempo. Sou entusiasta de que o Governo atue junto aos movimentos sociais, não acima, abaixo ou alheio a eles. No caso da UNE, o PC do B, partido da base governista, leva a cabo uma espécie de peleguismo que eu desaprovo por completo. Ademais, nem pode se dizer que o debate que a organização promove é ruim na medida em que o fato da UNE estar representando um partido e não os estudantes o torna nulo. As críticas da mídia corporativa, no entanto, não dizem respeito a isso, mas sim que a UNE não está defendendo as posições dela, nada mais do que isso.

Atualização: Bem escrevi esse texto sucinto ontem e o Maurício Caleiro sugeriu via Twitter que eu o ampliasse. Pensava em escrever um texto sobre a UNE há um tempo, mas acabei não o escrevendo. Ontem, por conta dessse post no blog do Nassif, acabei dando a minha visão. Creio que a análise do que foi o Congresso da UNE (CONUNE) está muito poluído por questões eleitorais - o longo 2010 que já começou há muito e pode ser que nunca acabe. A minha crítica ao PC do B é que ele não é democrático e aparelha a organização. Não tem nada contra estudantes que simpatizem com um partido - ou que façam parte dele - venham a disputar cargos em qualquer organização, mas é bem diferente de você ter a mão forte de uma executivapartidária por detrás. A UNE deveria servir para a representação dos estudantes. Não está servindo. Ela representa os interesses de uma agremiação partidária. Na última eleição para delegados para o CONUNE na PUC-SP nem mil alunos votaram no campus de Perdizes. Os estudantes não se sentem representados na UNE, chegam lá e tudo já está pronto e decidido. A atuação da UJS, diga-se, foi patética com as práticas não muito convencionais que ela faz uso.

A questão do CONUNE só veio à baila por conta das críticas que a mídia corporativa fez à entidade na sua cruzada anti-Lula. Daí, os setores anti-Lula passaram a criticar a UNE por conta de Lula e, por outro lado, os lulistas passaram a defender a entidade pelo mesmo motivo. A direita surge com sua defesa seletiva da Democracia. A esquerda pró-Governo vem e defende o aparelhamento, argumentando que ele é "normal", que na FIESP rola o mesmo e é "natural" que partidos integrem organizações desse tipo. Sobre o posicionamento da direita, nem vou me alongar mais. Agora, da esquerda pró-governo vem a relativização do centralismo nem um pouco democrático e a defesa da tese da naturalidade do aparelhamento de organizações de representação, o que se pode comentar diante disso?

Não vamos confundir alhos com bugalhos. Não é porque aplaudiu Lula ou se manifesta apoio a certas medidas - que eu também entendo como boas - que ela se torna boa e pura. A questão é o motivo pelo qual ela está fazendo isso e como ela está fazendo isso, logo, as consequências que isso terá. Um relógio quebrado também marca a hora certa duas vezes ao dia, mas o faz pelos motivos errados.

Atualização de 23/07/09 às 14:49: O Tsavkko postou sobre o tema. Vale a pena dar uma olhada.

3 comentários:

  1. Hugo,

    Fico feliz que você tenha seguido a sugestão, e, sem dúvida, a situação ficou agora, com o novo post, bem mais clara para pessoas que, como eu, não estão familiarizadas com os meandros da política estudantil atual.

    Cada vez me convenço mais de que esse Fla x Flu político aparentemente eterno em que vivemos é um dos piores males que assolam o país e o debate verdadeiramente democrático. Tive um puta trabalho para pesquisar e escrever um artigo sobre Clóvis Rossi para o OI e 99% dos comentários atacam a citação que fiz - para fins de análise do desempenho de Rossi- de alguns fatos positivos comprovados do governo Lula. Simplesmente esquecem do que trata o artigo e partem para o ataque político, por conta de um detalhe.

    Processo similar ocorre nos ataques à UNE e na sua defesa, segundo você relata. Simplesmente se esquece que uma entidade estudantil deve se guiar, evidentemente, pelas lutas que dizem respeito a essa categoria de cidadãos. Mas não: repete-se mais uma vez o círculo vicioso do Fla x Flu político. E o pior, como você coloca, é que isso pode se prolongar para além de 2010.

    Quanto ao aparelhamento, é um dos males arraigados na cultura política brasileira. A esquerda o justifica porque a direita o pratica, e a direita o justifica porque a direita pratica (a única diferença é que a " grande mídia" só grita no primeiro caso. E assim, a um tempo, se desprestigia a meritocracia e a autonomia dos organismos políticos da sociedade civil. É mesmo lastimável.

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  2. Maurício,

    Fico feliz que tenha comentado, só estou respondendo agora porque tive um compromisso. O meu desconforto é com esse clima político que se materializa na esquerda. Essa falta de racionalidade na crítica em relação ao Governo atual que implica na sua sistemática condenação ou na sua defesa incondicional. Não falaria exatamente em Fla x Flu porque aí teríamos uma dicotomia verdadeira - não é o caso aqui - mas concordo em essência com seu comentário: É difícil se expressar num cenário dominado pelo sectarismo.

    abração

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  3. Hugo, não me contentei em comentar, escrevi um Post tentando completar o seu!=) http://tsavkko.blogspot.com/2009/07/une-vergonha-do-movimento-estudantil.html

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