domingo, 19 de julho de 2009

Gabeirismos e a Banalização do Mal

Vivemos um momento político complicado. Não apenas no Brasil como no mundo. Em nosso meio, nos deparamos com o uma série de fenômenos anômalos, verdadeiros surtos de esquizofrenia coletiva que se abatem da esquerda à direita do espectro político. Um dos piores deles, é aquilo que nosso bom e velho Idelber Avelar identificou como Gabeirismo e o nosso amigo Alexandre Nodari definiu acertadamente como doença infantil do conservadorismo. Aliás, o Maurício Caleiro, há algum tempo, escreveu algo bem interessante para ele.

Tentando dimensionar as coisas, Gabeira se tornou ícone na esquerda com história do sequestro do embaixador americano Charles Elbrick. Depois, se envolveu com o ambientalismo do PV, fez parte da base de apoio ao governo Lula e depois rompeu com ele se alinhando com o que de mais podre há na política tradicional. O Gabeirismo, entretanto, só começa a se formar no bisonho episódio em que Gabeira tem um ataque de moralismo seletivo contra o folclórico ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti e vai, aos poucos, se aproximando do bloquinho PSDB/DEM/PPS, mas tal fenômeno é parido mesmo apenas às portas das eleições municipais de 2008 com sua candidatura para prefeito - o que se materializou como o casamento do gauche-caviar com o udenismo, uma espécie de sacro-santa missão civilizadora de caráter esnobístico. O que me fez sair do mera ojeriza para a perplexidade em relação a Gabeira foi uma declaração do referido político que eu pesquei lá no Alexandre:


"A estrela vermelha para mim não tem sentido. Eu a vi nos tanques sérvios que atiravam nos civis e em nós, repórteres. Agarrados à estrela vermelha, perpetraram crimes horrendos sob o título de limpeza étnica. Assim como a suástica, estrelas vermelhas levam ao desastre, quando se decide obedecer, cegamente, a um projeto de poder."


Eis que caímos de novo no reino das falsas simetrias, no entanto, aqui a falsa simetria se materializa como uma ultrapassagem de linhas da qual não é possível haver mais volta. Vivemos num momento político mundial onde o nivelamento do Stalinismo ao Nazismo esconde um perigoso movimento que tem por objetivo a relativização do próprio Nazismo como já tratamos por aqui. Gabeira faz o mesmo e consegue fazê-lo de uma maneira mais desonesta intelectualmente dos que a direita europeia: Se o nivelamento do terror Stalinista ao Nazismo serve para trazer a hecatombe nazista para o plano das tragédias dentro do panorama da Ilustração - ao qual ela nunca pertenceu -, nivelar o petismo à limpeza étnica é simplesmente criminoso.

Nesse momento, é Gabeira quem sai do plano do Esclarecimento; seu imoral moralismo seletivo à la UDN faz com que se cale diante dos absurdos de uma ala insensata e desmedida da Oposição ao mesmo tempo em que se presta a fazer um ataque que ressoa a irracionalidade do novo velho fascismo. Trata-se de um pequeno gesto que marca um divisor de águas em sua carreira, é aqui que o esnobismo soft de sua campanha começa a se revelar como um higienismo asséptico do mesmo naipe daquele esboçado pelos jovens moderninhos que tentam racionalizar a irracionalidade intrínseca e inerente do Massacre de Gaza ou da Guerra do Iraque.

Atualização de 21 de Julho, à 13:33: O Alexandre Nodari, com a erudição que lhe é peculiar, fez uma interessante tabelinha com esse post.

30 comentários:

  1. Hugo,

    Ótimo post!

    Embora eu tenha discordado de algumas nuances da sua crítica à equiparação entre nazismo e stalinismo, estamos plenamente de acordo quanto a tratar-se de um movimento revisionista que, como você coloca, tem por objetivo a relativização do nazismo - com todas as implicações que daí decorrem, como o crescimento do neonazismo na Alemanha, onde militantes acabam de assassinar uma egípcia de 31 anos.

    Pior: como você menciona, não se trata de episódio isolado relativo a falsas simetrias e relativismo, mas de uma tendência contemporânea, como vemos no Brasil em relação à ditabranda, digo dura, e à tentativa de igualar torturadores pagos pelo Estado a guerrilheiros que lutavam com a legitimidade de quem enfrenta um regime que usurpou o poder.

    Quanto a Gabeira, como já afirmei num artigo que seus leitores talvez não conheçam, mas que você leu - e corroborou -, para mim, não passa de um político dos mais hipócritas, que usa a ética da mesma forma como um cafetão usa uma prostituta.

    P.S.: desconhecia a paráfrase de Nardoni. "Doença infantil do conservadorismo´" é perfeito.

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  2. Análise exultante, caro Hugo. Aguardaremos as confirmações [mais delas] de tudo isso em 2010.

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  3. Pra começo de história, Sarney Filho está no PV, logo, dali não sai coisa boa.

    Essa da "estrela vermelha" foi doloroso... Socialismo real travestido de verdade absoluta, como se o Comunismo ou mesmo o Socialismo tivessem alguma semelhança com o que foi praticado pelo "bloco Comunista", ou melhor, pelo Stalinismo e seus filhos.

    No fim a direita festiva adora usar estes argumentos tolos para justificar sua defesa do liberalismo, do Estado mínimo. Usam o Stalinismo como desculpa, como se isso fosse minimamente válido. E, claro a questão das falsas simetrias entre stalinismo e nazismo são conhecidas.

    Gabeira é de uma espécie pior que a do vendido, hoje ele sequer defende a descriminalização da Maconha, bandeira pela qual atraiu muitos apoiadores ao longo de sua "carreira" política. Suas bandeiras, hoje, são totalmente desconhecidas.

    Mas, Hugo, simetrias e críticas à parte, discurso e criticas parecidas cabem ao PT, que se alia também à setores dos mais podres do país sob a desculpa da "governabilidade".

    Não digo que a desculpa não tenha validade - até certo ponto -, mas discursos como "herança maldita" e outras pérolas já não colam mais, não tem função e são prostituição ideológica pura.

    Ao se aliar com Sarney, Collor, Renan Calheiro e afins o PT se igualou, em tese à Gabeira e o que mais você quiser encontrar.

    Ainda que, sou obrigado a admitir, algumas alianças são necessárias. A diferena é até que ponto elas são ou deveriam ser "midiáticas".

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  4. Maurício,

    Esse crescimento é espantoso, especialmente porque ocorre também em lugares como a Alemanha e em uma improvável Rússia, justamente, os dois países do mundo que mais sofreram com o Nazismo.

    Aliás, a falsa simetria enquanto instrumento do Fascismo tem realmente se tornado recorrente - como você bem lembrou - no caso de equiparar os guerrilheiros aos torturadores no Brasil da Ditadura.

    abraços

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  5. Raphael,

    Sim, eu sei das falhas e dos erros do Governo petista, compartilho de muitas das suas críticas, inclusive, no entanto, o problema aqui é que o grupo com o qual Gabeira se aliou para fazer oposição a Lula é consideravelmente pior do que o atual chefe do executivo - aliás, faz oposição ao Governo por conta das suas virtudes e não dos seus defeitos, tanto é que chegam ao ponto de nivelar o PT ao Nazismo, o que é um atentado à inteligência alheia, convenhamos.

    abraços.

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  6. Oi Hugo,

    Poderia ser "elogiável" seu texto contra o Gabeira, contra a confusão entre Stalinismo e Nazismo, mas ao usar para isso única e exclusivamente argumentos pró-PT e governo Lula.
    Iniciando por considerar no "espectro da esquerda" o próprio Gabeira (PV), mostrando tão somente na sua análise a "política baseada na ótica eleitoral".
    Chegando ao cume (da paródia) de acusar o Gabeira de romper com Lula e se juntar às forças podres tradicionais, se "esqueceu" de que o PT/PCdoB além das alianças eleitorais com PSDB em mais de 1.100 municípios Brasil afora, já vem há muito tempo "praticando" uma política com a direitona brava (banqueiros, FIESP, oligarquias, etc).

    Com crítica assim, acaba deixando como resultado "final" da sua crítica (ao Gabeira) a defesa (tese) pura e simples de que a "real" esquerda é o PT/PCdoB.

    Acredito que você saiba que a velha esquerda já não está mais do lado de cá da trincheira (classe trabalhadora etc) e que não pretende ser cabo eleitoral desta "esquerda", por isso prezo pela sua capacidade de fazer uma crítica realmente pela esquerda, não só ao Gabeira, mas à todos que ainda se passam como esquerda entre o povo, ou até mesmo "socialistas/marxistas" que há muito trabalham na base do reformismo, da melhor "gestão" do Estado, da "luta" eleitoral (contra a de classe), sendo por isso sempre muito bem cotados pelo Grande Capital, desde a Europa do pós-Guerra até esse nosso último "giro à esquerda" na AL.

    Um grande abraço e até.

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  7. Guilherme,

    Obrigado, mas não olvide um detalhe: Na prática, 2010 já começou ali pelo Carnaval com a história da Ditabranda.

    abraços

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  8. Esse foi o desserviço que o Stalinismo prestou à causa do Socialismo. Ele serve para que esquerdistas chiques arrependidos, que fingem não entender a diferença entre Stalinismo e Socialismo (ou talvez não entendam mesmo!), vociferem contra as correntes de esquerda e unam-se, com chocante naturalidade, à direita mais rançosa.

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  9. caro companheiro,

    imagino q gabeira represente uma nova geracao da gauche-caivar a la FHC q qalqer outra coisa...

    imagino q o processo atrasado de 'amadurecimento' do gabeira seja explicado por seu ambientalismo...

    acho q o processo dele é uma especie de 'ajornamento' da conversao da esquerda champagne... o ambientalismo 'shy happy people' nos leva inevitavelmente a isto...

    Abraços
    Aldo

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  10. Cicero,

    Você trouxe no seu comentário o ponto-chave da questão da esquerda nos dias atuais: Reformismo (moderado ou radical) x Revolução. É em torno dessa polêmica que a esquerda orbita desde os primórdios do século 20º. Não penso que o PT/PC do B são a "real" ou única esquerda - e não é isso que está no post -, mas eles são sim parte dela. O que eu vejo no Brasil moderno é um profundo racha entre uma esquerda reformista que capitula sim diante do institucionalismo e do eleitoreirismo e uma outra ala da esquerda, que deseja ser revolucionária, mas fica apenas no reformismo radical e erra, ao meu pensar, quando nivela o PT ao bloquinho PSDB/DEM/PPS - que faz oposição cerrada ao governo por conta das virtudes dele e não dos seus defeitos. Esse nivelamento, no fim das contas, acaba favorecendo figuras como Gabeira.

    abraços

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  11. RLocatelli Digital,

    Concordo plenamente - aliás, isso daí que você escreveu é a chave para se compreender o que se passa na Rússia contemporânea.

    abraços

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  12. Grande Aldo! É isso daí mesmo, um processo praticamente kafkaniano ditado pelas conveniências do momento (que nos últimos anos caminhou brutalmente da esquerda pra direita): Do guerrilheiro para o ambientalista, do ambientalista para...isso.

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  13. Vamos por partes:

    - Rússia e Nazismo: Não é de surpreender que por lá tenham criado o Nacional-Bolchevismo, ou seja, Nazismo Bolchevista ou seja lá o que for isso. A Politkovskaya, aliás, era ligada ao "Partido".

    Mas não surpreende o crescimento de ideologias extremistas num país em que não existe esquerda "tradicional". Você tem de um lado o Stalinismo dos criptocomunistas do PC do Ziuganov, do outro os liberais entreguistas do Kasparov e, no poder, um mixto de fascismo e máfia pura.

    Ontem saiu artigo sobre isso no meu blog, alias, a máfia tomou conta da Rússaie não existe qqr oposição crível ou decente.

    Não existe mais esquerda na Rússia, ao menos não visível e relevante. Mas, na verdade, vejo que o fim do "Comunismo" trouxe um crescimento dos espectros de direita - notadamente saídos das fileiras do PC - sem nenhuma opção de Esquerda desligada do Stalinismo. E isso se verifica também nas Repúblicas vizinhas, da Cortina de Ferro e nas ex-repúblicas - com algumas exceções notáveis.

    Hugo: Olha, estamos falando de Sarney e Collo, além do Inocêncio de Oliveira e Renan Calheiros. não diria que são "melhores" ou menos piores que os escroques que o Gabeira se aliou, talvez da mesma estirpe.

    O Eduardo Guimarães, que ameaçou me censurar, aliás, parece achar, por outro lado, que o Lula está nas alianças certas, que o problema é com o Serra. Bem, em AMBOS os casos as alianças são nojentas e repreensíveis (o Serra, por si só, é repressensível, claro).

    Não dá pra relativizar sobre as alianças. Lula se aliou com o que há de pior, assim como Gaberia mas ao menos Lula tem alguma desculpa, a de governar. o Gabeira não. Equiparar o PT ao Nazismo e etc é absurdo e não reconhecer os avanços que trouxe - pesados os malefícios evidentes, vide UNE.

    Quanto aos comentários do Cícero eu concordo com boa parte da argumentação mas, Hugo, discordo de você na divisão entre reformismo e revolução.

    Eu não acho, em hipótese alguma, que o PT de hoje - ou muito menos o PCdoB - podem ser chamados de Esquerda. No máximo Social-Democratas e, para mim, terceira via nunca foi de Esquerda, Giddens não sabia a m* que daria (ou sabia e queria ver o circo pegar fogo).

    O PT ainda tem alas de Esquerda, mas o Campo Majoritário (ou seja lá por que nome é conhecido hoje) já abandonou a Esquerda e adotou posturas muito mais próximas do PSDB, uma espécie de liberalismo de mercado, com algum controle estatal sob um manto de desregulamentação e aliança com setores industriais e empresariais.

    O PCdoB, por outro lado, está morto, e falta enterrar. Na UNE frauda eleição após eleição e tira sarro do povo com Pettas e Stumpfs na presidência e, no nível parlamentar, vai de Netinho pra Senador. Não é sério.

    OK, o PT não pode ser reduzido ao DEM, PPS e etc mas,cá entre nós, falta pouco para o PSDB.

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  14. Caro Hugo,

    Já disse, e você confirmou, que para criticar o Gabeira acaba "salvando" o PT, "por conta das virtudes".

    Você tenta justificar sua "autonomia" em realção ao PT alegando (na resposta) que:

    Vê "no Brasil moderno é um profundo racha entre uma esquerda reformista que capitula sim diante do institucionalismo e do eleitoreirismo e uma outra ala da esquerda, que deseja ser revolucionária, mas fica apenas no reformismo radical".

    Nessa "esquerda rachada em duas", em qual parte, ou "ala" você simpatiza, ou qual linha de pensamento/atuação vc fica?

    No texto mostra simpatia pela "esquerda reformista" e eleitoreira (PT,PCdoB) em detrimento da "esquerda que deseja ser revolucionária, mas é reformista radical" e "erra ao nivelar PT ao grupinho PSDB/DEM/PPS".

    1) Sobre esta "parte" da esquerda que "deseja ser revolucionária" gostaria que apontasse alguns caminhos, estratégias básicas, ou táticas, que "fizesse" uma esquerda revolucionária, isso, é claro, se for do seu intuito e objetivo, de termos uma esquerda (ou Partido) revolucionário no Brasil.

    Sobre nivelar PT com PSDB, realmente nunca haveríamos de igualar-los, e nem de fazermos crítica ao PT e Lula da mesma forma que ao PSDB/DEM ou Serra. Embora "práticas" e acordos não faltem para mostrar semelhanças incríveis entre eles. Mas passemos de ponto.

    Quando nós (trabalhadores, militantes, socialistas) discutimos e/ou criticamos as atitudes e desvios do PT e da "esquerda", das traições, das capitulações (e não é só eleitoreira não!), do estrago que tudo isso trouxe e traz, para a maioria (trabalhadores, movimentos sociais, sindicatos, povo pobre, etc), com certeza não estamos falando de DEM/PSDB ou de Serra (direita declarada).

    Primeiro por que Serra não foi "o" Lula, líder máximo sindical do ABC (78/80), do PT, e da "esquerda", então obviamente não cobramos "certas coisas" do DEM/PSDB, nem de FHC (quem ironicamente Lula apoiou nos tempos áureos da "esquerda" democrática).

    Continua...

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  15. Para quem participou, trabalhadores(as), militantes, socialistas, de esquerda, do último ascenso, desde o início, que construiu, apoiou o PT, que viu seus desvios, sua burocratização, a base "decidindo" cada vez menos, o domínio de grupos e seus interesses nada socialistas, o que haveria de ser e no que se tornou, não só com a chegada de Lula na presidência em 2003, dia-após-dia, enfim, deste ponto de vista que devemos discutir os erros, os desvios, o(s) caminho(s), as estratégias, políticas, e rumos necessários para a "mudança" do sistema e da sociedade.

    Acredito que deve(mos) ir além de discutir (senão aí sim seria "comparar") melhores "gestões", governos A,B,ou C, ou ainda, quem deu melhores "concessões", melhores programas "sociais", e assim por diante.
    E isso vem de longe, inclusive na "velha esquerda" e entre socialistas/comunistas. Colocar a classe trabalhadora unicamente à apoiar e eleger este ou aquele governo "mais progressista", ou de "esquerda", só para fazer mais "pressão" sobre o governo, para que faça mais "concesssões", que coloque um ministro "comunista", toda uma camarilha sindical em vários postos e gerências do estado e estatais. E assim tem sido, infelizmente. Nem cobramos isso dos intelectuais (Florestan já havia dito sobre eles), mas das pessoas que estão no campo da esquerda, o mínimo é um estudo e balanço do que foi e é o PT.

    Ou mesmo ficar na discussão, como ocorre com muita gente "séria", de "esquerda", alguns até "marxistas", de: qual partido ou aliança partidária (coligação) será melhor para o povo brasileiro, ou melhor ou "mais emancipatório" para a classe trabalhadora, na eleição tal, no estado ou na cidade tal. Isso chega ser lamentável, mas acontece, numa discussão acerca dos rumos da "esquerda". Sinal do próprio reflexo e impacto das lógicas e práticas adotadas há muito tempo na esquerda, e nas discussões e embates das linhas seguidas pelos diversos grupos e tendências no "espectro" geral.

    Acredito que esta não seja o exposto acima, sua preocupação enquanto debatedor, mas seria muito bom então, se abrissemos um espaço para um debate que não fique "preso" à uma ótica eleitoral, ou de "gestão", pois a luta de classe e debate acredito que deva ser em outros lugares (onde esteja os trabalhadores, os mov. etc) e temas.

    Um grande abraço e até.

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  16. Tem aquele ditado, 'nada é tão ruim que não possa piorar', que cabe muito bem ao gabeirismo:

    'o grupo com o qual Gabeira se aliou (..) faz oposição ao Governo por conta das suas virtudes e não dos seus defeitos'

    Gente, a nossa direita carece de internação - esquizofrenia é patologia gravíssima.

    Outro exemplo de surrealismo foi o link do Hugo para o blog russo - 'Cocorocas internacionais incluem fãs do Kino como potenciais extremistas.'

    Caso Sérgio Porto estivesse vivo, o FEBEAPÁ poderia já estar no 50º volume.

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  17. Raphael,

    Sobre a Rússia, o que aconteceu ali é que o Stalinismo varreu as melhores lideranças do Partido deixando um agudo vácuo geracional. Criou a figura do dirigente e do funcionário público subserviente, sectário e pouco criativo e, mais importante do que isso, do cidadão como um zumbi político. Stálin conseguiu o que queria: Fez os russos acreditarem que o seu socialismo era o único socialismo possível, o que gerou uma profunda confusão mental na Rússia já dos anos 80 porque grande parte intelectualidade local pegou a criança e jogou ela junto com a água do banho - coisa que os oportunistas de plantão como um Yeltsin (ou um odioso Gaidar) souberam aproveitar muito bem naquela verdadeira hecatombe que foram os anos 90. Ademais, eu não chamaria o atual grupo que manda na Rússia de máfia, é mais complexo do que isso, é mais perigoso do que isso. Sobre os nacional-majoritários, eles se pretendem ser à direita o que os bolsheviks de Lenin foram à esquerda e pregam um sistema próximo ao fascismo italiano, nascem dessa esquizofrenia russa pós-URSS.

    Sobre o PT, sempre o vi como partido social-democrata, era mais radical nos anos 80 e hoje é moderado. Nunca pregou a ruptura, esteve ali na luta reformista por via eleitoral. Em suas virtudes e defeitos, nos seus purismos e fragmentações, é parte sim da esquerda - campo político esse onde praticamente todos os grupos reivindicam o título de esquerdista apenas para si.

    Lula erra nas alianças? Sim e isso eu já debati várias vezes com o Maurício Caleiro. Errou porque não resolveu em muitos aspectos na forma de fazer política, especialmente em ficar num institucionalismo um tanto paranóico, o que o tornou refém de oligarcas. Esse é um dos outros grandes problemas da esquerda: Não saber se relacionar com as instituições e viver com elas relações de extremos. No caso concreto, há uma enorme diferença entre o Governo FHC e Lula no que tange a relação com as oligarquias nordestinas; enquanto o primeiro estava organicamente ligado a elas, Lula em muitos aspectos é refém do apoio parlamentar de um Sarney ou de um Collor - como diferenciar? Pegue as políticas para o Nordeste - e o avanço - de um e de outro e você verá a diferença. Ironia das ironias, quem mais soube trabalhar com as massas para fazer frente às instituições falidas foi o conservador Tancredo Neves quando disputou as eleições indiretas como se diretas fossem.

    abraços

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  18. Cícero,

    A questão não é salvar o PT ou não, meu caro. Convenhamos que comparar o PT ao Nazismo é desonesto. Convenhamos também que não há simetria entre PT e PSDB. Portanto por que eu faria um exercício de lógica expansiva criticando o PT numa situação em que ele é vítima? Se eu o fizesse, estaria apenas salvando a posição de Gabeira.

    Sobre a pretensa esquerda revolucionária brasileira, um bom começo seria ela estar junto ao povo, estudando um pouco mais, indo para além de uma verdadeira metafísica que foi construída em torno d'O Capital e se livrando de um sectarismo centralista que permeia sim boa parte dela. A Revolução demanda não apenas ativismo prévio, mas desenvolvimento de novas ideias. Acho a militância da extrema-esquerda brasileira atual distante do povo e suas ideias um misto de socialismo reacionário com socialismo burguês.

    Nessa "esquerda rachada em duas", em qual parte, ou "ala" você simpatiza, ou qual linha de pensamento/atuação vc fica?

    Nesse momento nenhuma das duas alas é capaz de levar adiante - em sua totalidade - as transformações que o Brasil precisa, por isso eu não preciso ficar me identificando com nenhuma das duas e batendo no peito sobre qual racha da esquerda eu pertenço. Sou pela diálogo, meu debate é contra a direita, mas é preciso que a esquerda revolucionária se renove para finalmente poder sê-la e que a esquerda reformista se toque que o jogo com as instituições não é um jogo de extremos. Esse 2010 que começou tão cedo não tem a ver com o que podemos avançar, mas com o que podemos perder.

    Eu parto da premissa do "quanto pior, pior" e de que as diferenças entre Lula e Serra são suficientes para acontecer um profundo retrocesso no país se o segundo vencer. É hora da Crítica em estado puro, do distinguir para decidir não do racionalizar todas as ações do Governo como sendo boas ou más.

    abraços

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  19. Luis,

    O Kino foi uma banda íconica de punk rock na URSS dos anos 80 (!). Seu líder, Victor Tsoy, filho de pai coreano e mãe russa, era uma figura genial e polêmica, seja por suas origens asiáticas, suas posições políticas anti-repressão ou nas suas letras que uniam uma poesia virtuosa com críticas ao regime centralista.Foram prescritos pelo Governo Soviético e Tsoy, diga-se, morreu em um estranho acidente de automóvel no início dos anos 90.

    Hoje em dia, numa Rússia comandada por boa parte dos jovens burocratinhas dos anos 80, que ao se apoderarem das estatais se tornaram os donos do país, a gigantesca desagregação social é gritante gerando fenômenos como grupelhos neonazistas que se dedicam a atacar estrangeiros e pessoas de etnia não-eslava. Ironia das ironias, ver os fãs do Kino sendo novamente prescritos e ao lado de neonazistas é o sinal de algo vai mal no leste europeu.

    P.S.: A música que você linkou Zvezda po Imeni Solntse (uma estela chamada sol) é uma bem interessante, principalmente como uma crítica à guerra.

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  20. Hugo,

    Não seria 'proscrito', no sentido de renegado, desprezado? Aliás, você gosta mesmo do Kino? É mais new wave do que punk... não faz muito meu estilo.

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  21. Luis,

    Tem razão, estava com "prescrito" na cabeça, sorry. Acho que as letras deles faziam sentido no período, acho legalzinho.

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  22. Em primeiro lugar, é preciso ver o que é "aliança política". Lula tem 90% de popularidade no Nordeste, então é evidente que todos os caciques da região, inclusive do PSDB e do DEM (vide as eleições) saltem no cangote do presidente e procurem os palanques onde ele está para "aquela foto". O fato é: Renan, Collor, Sarney, todos os senadores tem poder real, independente de Lula ou não. Eles são senadores. Podem ser da oposiçao ou da situação. Se escolhem ser da situação, vocês querem o quê? Que Lula dê uma de otário esquerdista (que é o que muitos de vocês parecem querer) e diga "não, não pode". O fato é que eles apitam muito pouco no governo. Sarney botou o Lobão lá, mas é a Dilma que manda, com mão de ferro, na política energética nacional.

    Outra, o que é ser esquerda? É botar brochinho do Che? Inaugurar estátua do Bolívar? Ou tirar 35 milhões de pessoas da miséria e trazer 25 milhões para a classe média. Héin? O que é ser de esquerda? Esse discursinho sobre quem é mais esquerda que o outro foi extremamente negativo e afastou o povo, as mulheres depiladas e muita gente boa da "esquerda".

    Ah, gostei muito do post, mas eu sou suspeito, porque também criei uma implicância monstruosa com o Gabeira, chamado de "instalação artística" pelo Wanderley Guilherme dos Santos, porque não pode se pronunciar à direita nem à esquerda, e paira como um símbolo misterioso de alguma coisa meio aromática, meio indiana...

    Cordialmente.
    Oleododiabo.blogspot.com

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  23. Grande Miguel,

    Creio que Gabeira não se enquadra nem à esquerda nem à direita, é um oportunista, um legítimo homem do pântano. Como coloquei na minha resposta para o Aldo lá em cima, creio que a metamorfose kafkaniana que ele sofreu tem muito haver com a nossa época, se os tempos não tivessem se inclinado tão pra direita, ele estaria lá pela esquerda, por puro oportunismo, enganando muito gente ainda.

    Sobre a questão do relacionamento de Lula com o Senado, acredito num meio-termo, dava para não depender tanto das estruturas institucionais. Faltou um pouquinho de tato em como trabalhar junto os movimentos sociais para desenhar isso e até solidificar o grande apoio do qual ele goza.

    saudações cordiais

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  24. Movimento social não aprova lei, não aprova orçamento, e se Lula negligenciasse o Senado e apoiasse mais o movimento social, estaria literamente ferrado. De qualquer forma, ele apoiou fortemente os movimentos sociais, tanto que a direita e a esquerda radical vivem acusando o governo de "cooptar" os movimentos sociais. Podia até apoiar mais, mas causaria o risco de instabilidade política, se em vez de conseguir votos do Renan Calheiros, botasse a turma do MST para gritar às portas do Congresso.

    Abraço.

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  25. Miguel,

    Com efeito, não aprova. Mas pressiona em sua ação e seu funcionamento perene. Rompe com o jogo burocrático que a direita faz e que no plano da institucionalidade escraviza qualquer um. Veja só, meu bom Miguel, O grande ponto é que não é uma questão de institucionalismo puro ou de ruptura total, mas um meio-termo que mantenha as instituições funcionando e lembre, ao mesmo tempo, aos nossos nobres parlamentares que pesa sobre a cabeça deles uma espada de Dâmocles - coisa que em poucos momentos na história nacional eles precisaram temer.

    abraços

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  26. Pressão é pressão. O MST dá apoio forte ao Lula, mas governo tem e deve depender do Senado e das instituições. Não tem que ter "meio termo". Tem que fazer política, como em qualquer lugar do mundo. Mas você tem razão num ponto. O governo precisa fazer política fora do âmbito institucional também, mas não no movimento social, que deve ser independente dos governos, e sim na comunicação pública, praticando o debate político de forma mais intensa e mais profissional. Nossos nobres parlamentares, a maioria, está se lixando para o movimento social. O medo deles (com exceção de 1, um cara corajoso do sul, que já foi linchado) é a opinião pública, e tem sido pautados por esta. Esse meio termo, repito, é ilusão. O governo tem que fazer o jogo institucional. O Zelaya foi entrar nessa, de se apoiar muito nos movimentos sociais, e agora Honduras está à beira de um banho de sangue. É preciso não subestimar, nunca, as instituições. Um forte abraço.

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  27. Miguel,

    Apesar de discordar de alguns pontos, entendo a sua fala. Mas que fique claro o seguinte: Não coloquei que os movimentos sociais devam ser dependentes do governos, mas que o Governo deva trabalhar junto com eles - daí o negrito -, acredito em integração autêntica e vínculo orgânico. Isso, ao meu pensar, é cabal para o bom funcionamento das instituições, afinal, atualmente eles funcionam como se o povo tivesse de girar em torno delas, quando na verdade é o contrário - principalmente se levarmos em conta o princípio democrático. Quanto ao caso hondurenho, convenhamos, que Zelaya é tão vítima quanto o PT é nessa declaração de Gabeira, ele sofreu o golpe e se isso aconteceu é porque as instituições de Honduras se autonomizaram até mesmo em relação ao Direito, é para evitar essa autonomização que é necessário buscar a participação popular, sem despreza-las, claro. Enfim, é um longo debate.

    Abração

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  28. Hugo, concordo integralmente com sua resposta a mim, irretocável, temos pensamentos mt próximos nas questões discutidas ali.

    Miguel: Uma coisa é dizer "não, não pode" outra é subir em palanque, elogiar e chamar de amigo.

    Se, devido à popularidade do Lula os coronéis o apoiam, já que o povo apoia, então pra que "agradecer em palanque algo que, invariavelmente aconteceria?

    Lula não soube jogar com sua popularidade e mostrar que, se se opuserem, perderão apoio. Não precisa ir pra palanque defender canalha.

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  29. Raphael: "Lula não soube jogar com sua popularidade" - totalmente de acordo. Por não saber jogar com ela (ou por ter medo de perdê-la) que Lula não impôs a agenda de reformas no começo do governo - lá em 2003, 2004. Poderia ter mudado o país ali. Mas vem a questão: talvez perdesse, desgastasse a sua popularidade.

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  30. Alexandre e Rafael,

    Eu tenho comigo que Lula e o PT (leia-se Articulação), em um primeiro momento, não souberam usar dessa popularidade, o que atrapalhou feio o Governo em seus primórdios. A medíocridade do biênio 05/06, aliás, se deveu a isso; quando ele ousou mais via PAC, veio o fim do marasmo em 07/08.

    Ainda assim, acho que Lula, na média, continua utilizando mal sua popularidade. O apoio de muitos coronéis a Lula se deve ao apoio do povo a ele, portanto, não é questão de ceder mais do que é necessário.

    Enfim, eu não vejo a questão pelo prisma do 8 ou 80: Eu acredito sim que um meio-termo poderia ser utilizado nesse jogo; é trabalhar mais próximo da sociedade, não para romper com as instituições, mas para fazer eles funcionarem, sem isso, você se torna refém de certas figuras e certos grupos.

    abraços

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