quinta-feira, 7 de maio de 2009

Os Rumos do PPS e a Coalizão de Oposição

Uma das coisas que me levam a apoiar o Governo Lula, mesmo com todas as suas contradições e a queda qualitativa que o PT sofreu nos últimos anos, é a conjuntura político-partidária do país. É fácil questionar o PT. Ele erra bastante mesmo. O duro é apontar outra saída. Temos desde uma extrema-esquerda autista até um PMDB amórfico passando por uma oposição que não tem razão de ser.

O bloquinho oposicionista formado por PSDB, DEM e PPS é um achado. O PSDB é um partido social-democrata que não é social-democrata - cujo único paralelo que me vem à mente é o português, onde o PSD também é social-democrata no nome ao mesmo tempo em que na prática se opõe a ela. O DEM, outrora PFL, é o partido da oligarquia brasileira, a dissidência da ARENA que soube pular do barco na hora certa e conseguiu, por osmose, se infiltrar na democracia formal nascente - outro caso curioso de partido que, definitivamente não é o que o seu nome diz que é. Por fim, temos o PPS, ex-PCB, do glorioso Roberto Freire que, à italiana, pulou do barco da esquerda quando a URSS caiu. É sobre ele que eu vou falar um pouco.

Em primeiro lugar, não tenho como não citar o processo tosco que foi a mudança do nome da legenda. Ora, se o partido era 'comunista' e os regimes blochevistas do leste europeu caíram, ele, mais do que ninguém, tinha a obrigação de fazer uma crítica qualificada sobre o que aconteceu. Mudar de nome é de uma desonestidade e de um infantilismo flagrante - suscita mais ou menos aquela ideia de que o partido só seguia a ideologia que o nomeava por conveniência do momento.

A atuação do PPS ao longo da década de 90 foi opaca. O partido já nasceu morto, nunca teria condições operacionais para se opôr ao que quer que fosse. Sua participação política de maior relevo no período foi nas campanhas presidenciais de Ciro Gomes (98 e 02), um sujeito que eu nem detesto tanto, mas que não posso olvidar o fato de que é ex-arenista e integra hoje o Partido Socialista Brasileiro - e, pelo andar das coisas, se morrer com cem anos, morrerá anarquista.

Durante o governo Lula, a ação do PPS foi repugnante. Freire não recebeu as concessões que queria, se doeu, tentou boicotar Ciro Gomes como ministro e acabou indo parar na oposição. Primeiro, o partido se usou do episódio do mensalão para fazer uma crítica ao melhor estilo udenista, depois foi se apoximando do consórcio PSDB/DEM até ser absorvido por eles nas municipais de 08 - onde sofreu uma derrota expressiva. No fim das contas, ele apostou no discurso de demonização do Governo Lula, só não esperava que além de Lula se reeleger, ainda fosse obter um êxito tão grande quanto no biênio 07-08. O PPS ficou a ver navios.

Temos aí o caso Dantas. Nomes de relevo do partido - como o deputado Raul Jungmann - foram escalados para a defesa de Mendes e para o achincalhe público a Protógenes e a De Sanctis. Humilhante. Vem a crise e o PPS, em seu programa político, surge com a tese de que o Governo Lula iria bloquear a poupança como fez Collor. Indefensável. O PPS, enquanto nanico da oposição, parece ter sido escalado para fazer os ataques mais baixos contra o Governo Lula.

É bem emblemático o caso de Soninha; ela aparece no PT com um discurso bem moderninho, se elege vereadora em 04, dá uma passo maior que a própria perna em 06 se candidatando para deputada, perde, culpa o partido, pula para o PPS e acaba fazendo coisas como apoiar um Kassab para a prefeitura ou fazer médias inacreditáveis como dizer que Serra é de esquerda. Ah, e ainda arruma tempo para fazer contorcionismos lógicos para explicar a história contada pelo seu partido de que o Governo Lula iria confiscar poupança.

Olhando para um horizonte próximo, o futuro do partido é apocalíptico, talvez ser absorvido pelo DEM, talvez virar de vez uma mera ponta de lança do consórcio, sabe-se lá. Mas de qualquer modo, isso ilustra bem como as coisas andam mal no nosso sistema partidário.

9 comentários:

  1. O PPS faz política de pré-escola. Aquela cuja dissidência rompe com um 'você é feio, não brinco mais!'

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  2. Luis Henrique,

    Faz mesmo e o faz por interesses bisonhamente escusos e baixos. É bizarro.

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  3. Apenas para ratificar, assinar embaixo, enfim endossar tudo o que comentaste sobre o PSS, Soninha e caterva PSDB, DEMoníacos e escambau !

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  4. Cara, disseste tudo o que a gente tem vontade de expressar e, às vezes, por uma outra razão não explicita. É isso aí, é como aquele dito popular : Ruim com Lula, pior sem ele. !!!

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  5. Obrigado, Ricardo e, sim, é isso daí mesmo João, a oposição é muito pior do que o governo. O PSDB, por exemplo, conseguiu piorar como partido fora do poder - se antes tinha planos ruins, hoje não tem nada mais do que críticas desqualificadas ao governo.

    abraços

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  6. Excelente post Hugo. Tem o boato, que volta e meia aparece, de uma possível fusão com o PSDB (que acho mais plausível que a incorporação ao DEM). Essa semana alguém do PPS andou negando, mas acho que é o caminho; senão o partido vai morrer mesmo. Abraço

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  7. Grande Alexandre,

    Sim, isso pode acontecer, mas também é provável que o PSDB absorva alguns nomes de "relevo" do partido. Nesse exato momento, o PPS não passa de um morto-vivo que foi escalado para ser bucha de canhão nesse script dantesco - e previsível - da oposição.

    abraços

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  8. Post irretocável. O PPS, que já nasceu equivocado, como você mesmo assinala, abriga hoje duas das mais hipócritas e arrivistas figuras públicas que têm o desplante de se dizerem de esquerda: Soninha e o sempre mutante Roberto Freire (alguém ainda acredita nesse cara?).

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  9. Obrigado, Mauricio,

    E, não, ninguém que tenha mais do que um neurônio acredita no Freire. Soninha, por sua vez, é um caso à parte e revela algo interessante que aconteceu em nossa classe média: A passagem da antiga esquerda festiva e sofisticadinha para a direita durante os anos Lula. Uns deles passaram a integrar aquela direita rançosa - como bem assinalou o Nassif há alguns dias - e outros simplesmente não tem coragem de se assumir como tal e continuam a se dizer 'de esquerda'.

    No entanto, independentemente do lado que escolheram, eles se amparam numa crítica udenista contra o PT ao mesmo tempo em que se colocam numa posição do espectro político que tem menos a oferecer que o partido da estrela.

    Nas últimas eleições municipais, acho que as candidaturas da própria Soninha em São Paulo e de Gabeira no Rio representaram muito bem esse udeno-gauche-caviar e, felizmente, perderam. Da ex-esquerda hoje direita rançosa, temos mais exemplos aqui em São Paulo mesmo e Serra é quem busca aglutinar essa gente.

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