sexta-feira, 20 de março de 2009

Panorâmica

Beleza de semana atribulada essa que eu tive. Aula de manhã e quase sempre algum compromisso à tarde que se estende pela noite e acaba me extenuando. As coisas, no entanto, continuam rolando no mesmo ritmo de alguns meses: Crise Mundial continua a avançar, Lula se encontrou com Obama, por outro lado, ainda não se sabe até onde a pressão contra Protógenes e De Sanctis vai parar e por aí vai.

É o rescaldo da Era Bush que, por sua vez, é uma consequência do lado escuro do século 20º que até aí nós fazíamos - e ainda podíamos fazer - questão de não enxergar; é o lamaçal da história, é o momento zero onde os limites do pensamento iluminista são jogados na nossa cara de maneira nua e crua.

Temos Obama e Lula, dois líderes improváveis em seus países; Obama é negro e preside um país no qual até bem pouco tempo havia segregação racial; por sua vez, o ex-operário e ex-sindicalista Lula preside um país onde a desigualdade social e o classismo sempre saltou aos olhos de qualquer um; ambos foram eleitos na esteira de governos fracassados que lhes legaram turbulências consideráveis assim como alguns ouvintes improváveis - além de gargalos suficientes para não reclamarem de falta de serviço.

Lula, há seis anos no poder, passou por altos e baixos, mas sempre se saiu das enrascadas que apareciam pelo caminho com boas doses de habilidade política, algumas políticas públicas bem funcionais e graças a uma base de comparação bem fraca, mas quando seu governo finalmente pegou ritmo, veio a Crise. Obama, por sua vez, já foi pego de cara pela crise logo de cara, aliás, é fruto do mesmo que a gerou e com ela estabelece uma relação paradoxal; nesse momento tem uma boa dose de gordura política pra queimar, mas não se sabe até onde isso vai durar - o Obama de hoje é o Lula de seis anos atrás com seis vezes mais riscos.

Nesse clima, aconteceu a visita de Lula à Casa Branca; Desde Bush, os americanos tem problemas demais pelo mundo e mesmo que governos de esquerda incomodem pela América Latina, governos mais moderados - seja lá o que isso signifique - merecem certas concessões; É aí que entram os governos do Chile e do Brasil, no entanto, é evidente, pelo tamanho dos dois, qual deles vai receber um tratamento preferencial - para servir como uma espécie de válvula~, bem ambigua diga-se, que Washington usa para não perder o controle definitivo da região e para a qual tem de abrir mão para certas concessões.

Do mesmo modo que Lula se mantém no Brasil sabendo se equilibrar como poucos no linha tênue e trêmula da política interna, a conjuntura mundial e continental vem lhe sendo favorável também. Entretanto, claro, os problemas nessa nossa época insistem em se agigantarem: A Crise Mundial insiste em virar uma bola de neve, o que não só pode como certamente será usado pelos adversários do PT ano que vem ao mesmo tempo em que instituições como o STF e o Senado, mais do que a média, acusam necrose e podem levar muita coisa junto no redomoinho.

Com efeito, é uma época de muitas incertezas...

4 comentários:

  1. Sem dúvida vivemos uma época de muita incerteza, mas eu acredito que até o segundo semestre deste ano as brumas começam a baixar e as coisas podem ficar mais claras. Espero não estar errado.

    Segundo pesquisa do IBOP (de quem é o IBOP mesmo?) a popularidade do Presidente Lula caiu 9% de Dezembro à Março. Ainda assim, apenas 10% dos entrevistados consideraram seu governo ruim ou péssimo. Ou seja, por mais que tenha caído (segundo o IBOP) Lula continua com a popularidade bastante em alta. Há o risco de a crise aumentar e derrubar a popularidade do presidente, mas também existe a possibilidade de uma recuperação já final do primeiro semestre. Na verdade já está havendo. O desempenho da economia brasileira sofreu uma considerável melhora nos meses de Fevereiro e Março, graças as políticas de Lula contra a crise.

    Pode não ser uma tendência, mas se for Lula sairá fortalecido. Caso contrário, é melhor já ir procurando uma alternativa.

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  2. Eduardo,

    Em todo esse pandemônio, o mês de dezembro foi de longe o mais dramático; ele pôs abaixo todos os ganhos de Outubro e Novembro e teve um saldo negativo na geração de emprego na casa de 600 mil - sendo que de Janeiro a Novembro, o Brasil tinha gerado 2,1 milhões de empregos. Na minha visão das coisas, como a conjuntura até aquele momento era favorável e havia um equilíbrio entre sistema financeiro, sistema produtivo e povo, ninguém no governo quis se antecipar e lançar mão de uma política de prevenção mais agressiva; depois de dezembro ficou claro que não dava para seguir assim e com certa demora foram tomadas medidas que tiveram alguma eficácia na descida.

    Sobre a popularidade de Lula, partindo da premissa que as pesquisas do IBOPE e dos demais institutos de pesquisa sejam confiáveis, é natural que isso aconteça nesse momento de crise, ainda que haja muita gordura para queimar - mas sejam quais forem os resultados dessas pesquisas, pra cima ou pra baixo, eu prefiro me manter cético quanto a elas e lê-las nas entrelinhas.

    Se Lula contornar essa crise no fim do mandato, sai fortalecido, vira herói e elege sucessor, se as coisas piorarem, mesmo que a resolução desses problemas estejam além de sua alçada, ele pode pagar um ônus muito alto, mas dependendo da intensidade das coisas, nem mesmo o PSDB escapará disso...

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  3. Eu ainda acredito numa recuperação,sei lá, posso estar sendo otimista demais. Mas caso ela não venha e, pelo contrário, a situação piore, penso que o PSDB terá uma vantagem muito grande sobre Lula. Desde o começo da crise Serra e Aecio _ além de outros líderes do PSDB e do DEM-O _ vêm criticando em público a maneira como o Presidente conduziu a economia. Falta comando! Vivem dizendo.

    Apostam no "quanto pior, melhor" e se acertarem a aposta, levam tudo.

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  4. Eduardo,

    Depende da gradação da crise. Se ela for grande favorece o PSDB. Se ela for pequena ou for contornada, favorce o PT. No entanto, há uma terceira possibilidade: Se ela for gigantesca vai pôr abaixo tanto o projeto de tucanos quanto de petistas - isso, entretanto, só o tempo dirá, afinal, sabemos pouco ou quase nada como o sistema mundo funciona.

    O único palpite que eu tenho é que o tal do G-20 não conseguir se sentar numa mesa para elaborar uma solução global para isso daí(ou se tentar e falhar) a vaca vai pro brejo legal.

    abraços

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